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Pandemia: epidemiologista defende a manutenção do trabalho remoto em Mato Grosso até os níveis de contaminação baixarem

Numa breve entrevista para o Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário Federal do Estado de Mato Grosso (Sindijufe-MT), através do whatsapp, a epidemiologista, professora do Instituto de Saúde Coletiva da UFMT e membro do grupo de pesquisadores multidisciplinar que faz o monitoramento dos dados da covid-19 em Mato Grosso, Doutora Ana Paula Muraro, falou sobre o andamento da vacinação no estado

Em Cuiabá, segundo ela, a vacinação continua em ritmo mais lento que o desejável, influenciado não somente pela insuficiência de imunobiológico, mas também pela falta de planejamento, por parte do Governo Federal , que garanta a entrega das vacinas em quantidade e regularidade adequadas e pela não adesão de parte da população à vacinação das duas doses previstas, haja vista o número de indivíduos que não retornam para receber a segunda dose.

Confira, a seguir, o inteiro teor da entrevista:

No atual momento da campanha de vacinação, a senhora acha que é recomendável voltar ao trabalho presencial ou seria mais aconselhável aguardar até termos a população 100% imunizada com as 2 doses?

A avaliação do retorno presencial vai além da campanha de vacinação. É necessário avaliar a capacidade dos serviços de saúde e os indicadores epidemiológicos de casos, internações e óbitos pela doença para avaliar o nível de risco de contaminação.

Quando possível a adequação da função para o trabalho remoto, o ideal era mantê-lo até os níveis de contaminação do estado e do município estarem baixos e a cobertura populacional estar adequada.

Lembro que não teremos 100% da população vacinada, primeiro, não temos ainda vacinas aprovadas para crianças e então as estimativas para cobertura no país estão sendo estimadas para a população com 18 anos ou mais de idade. Em estudos de efetividade já foi mostrado que a imunização de pelo menos 90% da população adulta já fez os indicadores de internação e óbito diminuírem substancialmente.

Pessoas com comorbidades (Bronquite, Diabetes, Asma) e baixa imunidade, doenças cardíacas, etc. deveriam evitar o trabalho presencial?

Enquanto durar o período de pandemia, recomenda-se o trabalho não presencial para as pessoas pertencentes a algum grupo de risco. Mesmo com a imunização, algumas condições elevam o risco de casos graves da doença no indivíduo. Enquanto não temos um tratamento efetivo contra a covid-19, devemos evitar qualquer exposição a riscos entre as pessoas mais vulneráveis. Os grupos de risco estão previstos na Portaria no 2.789, de 14 de outubro de 2020, do Ministério da Saúde e reforçam a importância de considerarem esses grupos para a seleção de pessoas para o trabalho remoto.

Por que está havendo tantas mortes de pessoas que já tinham tomado as 2 doses?

Nenhuma vacina é 100% eficaz, mas os dados apontam para uma pequena proporção de óbitos para pessoas já imunizadas com as duas doses antes de se contaminar. Uma proporção maior é verificada, entretanto, para aquelas que não completaram o esquema vacinal (duas doses ou dose única) antes de contrair a doença. Por isso é importante completar o esquema vacinal, não é adequado avaliar a primeira dose como já imunizado.

Posso contrair o vírus pelo compartilhamento de objetos?

O maior risco de contaminação é pelo ar, por aerossóis ou gotículas maiores. Evidências atuais mostram que a contaminação por contato com superfícies é baixa, mas existe. O essencial é sempre higienizar as mãos e evitar colocá-la no rosto durante as atividades de trabalho ou fora de casa.

É verdade que as máscaras de tecido oferecem baixa proteção? Adianta usar uma máscara sobre a outra?

A proteção das máscaras de tecido varia muito conforme sua composição de tecido, camadas e aplicação de compostos químicos. Superado o desabastecimento de máscaras n95 e PFF2 que sofremos nos primeiros meses de pandemia, recomenda-se que sejam elas oferecidas pelo empregador, conforme a Legislação vigente (Lei nº 14.019), e utilizadas no âmbito do trabalho.

A máscara deve ser usada por, no máximo, duas horas e, quando estiver úmida ou visivelmente suja deve ser trocada imediatamente, independente do tempo de uso. É importante lembrar que a máscara de tecido perde a eficácia com o tempo de uso e umidade, por isso a necessidade de trocar a cada duas horas ou sempre que estiver úmida.

Por que Mato Grosso é um dos estados mais atrasados em relação à imunização da covid-19?

As explicações seriam melhores se a Secretaria Estadual de Saúde ou as municipais informassem. Por exemplo, nos boletins epidemiológicos quinzenais da Secretaria Municipal de Cuiabá, em parceria com pesquisadores da UFMT, há a avaliação do ritmo de vacinação na capital do estado.

Abaixo algumas questões apontadas no último boletim que avaliou os dados até 14 de agosto de 2021 (finalizando a Semana Epidemiológica 32).

Após cerca de sete meses do início da vacinação na capital (20 de janeiro), foram aplicadas 437.672 doses, ou seja, 78,3% do total de vacinas entregues.

Cabe destacar que a Secretaria Municipal de Saúde-Cuiabá dispunha, em 14 de agosto, de cerca de 88 mil doses armazenadas, sendo a maioria (80%) para aplicação da 2ª dose, ou seja, para assegurar a imunização completa da população que recebeu a 1ª dose e as demais para a aplicação da primeira dose e dose única garantindo, dessa forma, a não interrupção da vacinação na capital na possibilidade de atraso no repasse do imunizante.

Entre os vacinados, 303.214 receberam a 1ª dose, 122.044 foram vacinados com a 2ª dose e 12.414 com dose única.

Observamos que das pessoas que receberam a primeira dose somente 40,3% receberam a segunda dose. Desta forma, totalizaram 134.458 pessoas imunizadas, abarcando,portanto, aquelas que tomaram a segunda dose das vacinas AstraZeneca, CoronaVac ou Pfizer e aquelas que receberam a vacina de dose única (Janssen).

Verificamos, portanto, que o curso da vacinação na capital, embora tenha apresentado discreto crescimento nas últimas semanas, continua lento, com cerca de 15.092 doses aplicadas semanalmente ou 2.160 doses por dia.

Nas duas últimas semanas houve um incremento de cerca de 16% no número de doses aplicadas, sendo esse aumento mais expressivo na aplicação da segunda dose da vacina (26,3%).

Entretanto, a vacinação continua em ritmo mais lento que o desejável, influenciado não somente pela insuficiência de imunobiológico, dado pelo não repasse, por parte do Governo Federal, em quantidade e regularidade adequados, mas também pela não adesão da população à vacinação, haja vista o número de indivíduos que não retornam para receber a segunda dose. (Página 19 do Boletim epidemiológico 22/2021).

É possível prever se até o final deste ano a população de Mato Grosso estará totalmente imunizada?

Nas últimas semanas houve uma aceleração na imunização no país e no estado. Avaliando a análise do MonitoraCovid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a partir dos dados dos últimos 30 dias quanto à vacinação, a estimativa é que em até 110 dias toda a população com 18 anos ou mais tenham recebido a 1ª dose em 110 dias e para a segunda dose ou dose única a estimativa é de 283 dias (abaixo o print do site em 17/08/2021).

Faltam 137 dias para acabar o ano de 2021, então, se esse ritmo de vacinação continuar ou melhorar, provavelmente no primeiro trimestre de 2021 teremos uma proporção alta de imunização dos adultos do estado.

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