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Em Sarau da Diversidade, promovido pelo Sintrajufe/RS, painelistas debatem trajetória e desafios da comunidade LGBTQIA+

Nessa segunda-feira, 28, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, o Sintrajufe/RS realizou, por meio de uma transmissão ao vivo, o Sarau Vozes da Diversidade. A atividade, mediada pela diretora do Sintrajufe/RS Luciana Krumenauer, teve debates e apresentações culturais

Como painelistas, participaram Hariagi Borba Nunes, mestra em Educação, doutoranda em História, professora voluntária na TransEnem; Marcus Vinícius Pires, produtor cultural, ativista LGBT, integrante dos coletivos Bloco da Diversidade e Parada Livre de Porto Alegre ; e Rafa Ella Brites Matoso, estudante de Ciência Política e assessora política.

Trajetória de luta

A primeira fala foi de Hariagi Borba Nunes, que destacou que a data, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, é importante para lembrar os processos de luta e resistência dessa comunidade. O Brasil, lembrou, é o país que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo.

Esse problema é agravado pelo que chamou de “virada conservadora”, que tensiona as vitórias de períodos anteriores e os direitos já conquistados pela comunidade. Para fazer frente a isso, apontou, é importante que se conheça a experiência de luta no Brasil desse movimento plural, que tem a diversidade de vozes e trajetórias como uma marca importante.

Hariagi lembrou algumas das principais datas do movimento, com destaque para a rebelião no bar Stonewall, em Nova Iorque, que, em 1969, foi o marco mundial dessa luta.

No Brasil, a painelista lembrou que o movimento começa oficialmente em 1978, embora antes disso algumas pessoas já lutassem e resistissem contra o preconceito. Mas é em 1978 que o movimento se organiza, tendo no grupo Somos sua principal expressão. Naquele momento, a comunidade LGBTQIA+ sofria, por um lado, com a ditadura, e, por outro, com a carga moralista dos movimentos de esquerda.

Essa tensão dificultava a organização, mas, mesmo assim, emergiu a primeira onda do movimento LGBTQIA+, com o combate à ditadura, a busca por alianças com outros movimentos – inclusive o sindical – e o nascimento de uma imprensa alternativa especializada, com jornais como o Lampião da Esquina e o Chana com Chana.

A segunda onda, nos anos 1980, esteve muito ligada à epidemia de HIV/AIDS e à internacionalização e institucionalização do movimento.

Finalmente, a terceira onda começa nos anos 1990 e segue até hoje, com o fortalecimento das paradas livres, a pluralização dos grupos e a diversidade dos ativismos, além da conquista de importantes direitos. Para Hariagi, “ é importante reconhecer e respeitar nossa história, uma história muito rica.

O movimento surge na ditadura e mesmo assim consegue se organizar e reivindicar pautas, deixando um legado importante que serve inclusive para atuar neste novo momento de autoritarismo”, apontou.

Diversidade no movimento LGBTQIA+
Em seguida, quem falou foi Marcus Vinícius Pires, produtor cultural, ativista LGBT, integrante dos coletivos Bloco da Diversidade e Parada Livre de Porto Alegre.

Ele abriu sua fala destacando que a comunidade LGBTQIA+ não é separada da humanidade, “e o que a gente sempre pede é que se respeite a nossa existência, nosso direito de ser quem a gente é”.

Ao relembrar sua própria trajetória, Marcus destacou a importância do movimento para defender até mesmo a vida das pessoas da comunidade. Por outro lado, lamentou as dificuldades do momento pelo qual passa o país: “querem nos botar de volta para o armário. Mas não vão nos botar de volta no armário, nem as mulheres na cozinha, nem o negro na senzala”, garantiu.

Para isso, o painelista ressaltou a necessidade de organização e ocupação de todos os espaços, citando como exemplo a Parada Livre de Porto Alegre, uma das mais antigas do país. Seu primeiro impacto, quando começou a participar da Parada, foi perceber que quase não havia pessoas negras ou da periferia.

Assim, resolveu buscar diálogo com os LGBTQIA+ da periferia, na luta para que todos e todas se reconhecessem nos palcos, reforçando a diversidade. Em sua fala, Marcus fez questão de pontuar a importância do Sistema Único de Saúde para atendimento aos soropositivos, como ele, e a diretora do Sintrajufe/RS Luciana Krumenauer completou a menção lembrando a necessidade de lutar contra a reforma administrativa e em defesa dos serviços públicos.

Sistema colonial e violência institucional
A última painelista foi Rafa Ella Brites Matoso, estudante de Ciência Política e assessora política da vereadora Lins Robalo, do PT de São Borja. Rafa Ella, mulher trans, relatou a perseguição que ela e o “mandata” da vereadora estão sofrendo na cidade, onde vereadores da situação estão acusando Lins Robalo, negra e também mulher trans, de “racismo contra os brancos”.

Conforme Rafa Ella, esses vereadores sentem-se ameaçados pela presença de pessoas trans em um espaço historicamente – e ainda – dominado por homens cis e brancos. Ela contou que, em uma live da Câmara de Vereadores da cidade, Rafa Ella saiu em defesa da vereadora e, por isso, foi exonerada pelo presidente da Câmara, o que gerou uma batalha judicial que continua neste momento.

Para ela, trata-se de um importante exemplo das violências institucionais contra pessoas trans, refletindo um abismo entre o Brasil institucional e a vivência real das pessoas. Assim, é importante situar essas violências “que a colonização usa para se fazer eterna”.

É preciso, então, compreender como e por quem foi instituído esse sistema de valores, que não é natural, mas cultural. No caso do Brasil, trata-se de um legado de base europeia e eurocentrada, o que aparece de forma concreta na vida da população. Dessa forma, é fundamental compreender de onde vêm esses valores, que se constituem como a continuidade de uma ocupação colonial e violenta.

Apresentações culturais
Ao longo da transmissão, fizeram participações também diversos importantes nomes da área cultural, com apresentações de poesia, música e performances.

Também houve espaço para que as artistas fizessem comentários sobre suas lutas e o contexto do momento no país. Se apresentaram, nos intervalos e após as falas do e das painelistas, a cantora e compositora Ilse Lampert, a drag queen Lo Litta, a também drag queen Sasha Lacrey, e a cantora e compositora Leny Barcellos.

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