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ConSaúde encerra primeiro dia com discussão sobre assédio e hiperconexão

ConSaúde encerra primeiro dia com discussão sobre assédio e hiperconexão

Foram painelistas a professora Ana Magnólia, a assessora Vera Miranda, o médico Geraldo Azevedo e a diretora do Sintrajufe/RS, Mara Weber

Na retomada dos trabalhos da tarde no Encontro do Coletivo Nacional de Saúde da Fenajufe (ConSaúde) neste sábado (6), o painel foi “Assédio Moral, Assédio Sexual - Ferramentas da Gestão de Produtividade no PJU e MPU?” com a professora do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da Universidade de Brasília (UnB), Ana Magnólia.

Participação das coordenadoras Lucena Pacheco, Soraia Marca, Luciana Carneiro, Márcia Pissurno, Denise Carneiro e dos coordenadores Fabiano dos Santos, Edson Borowski, Manoel Gérson, Paulo José da Silva e Luiz Claudio Correa.

Dos Sindicatos, representantes do Sindjuf/PA-AP, Sinje/CE, Sindissétima/CE, Sintrajufe/CE, Sindjufe/BA, Sisejufe/RJ, Sintrajud/SP, Sindiquinze/SP, Sindijufe/MT, Sindjufe/MS, Sitraemg/MG, Sintrajuf/PE, Sintrajusc/SC e Sintrajufe/RS.

Era do assédio organizacional

A professora Ana Magnólia iniciou afirmando que hoje vivemos a ‘era do assédio organizacional’, considerando o que sustenta essa prática, que são os modos de gestão produtivista, especialmente os de certificação de qualidade total, e que são a base das situações de assédio organizacional.

Magnólia alerta e constata que a visibilidade, hoje, para os casos de assédio tem se torando difíceis de serem identificadas e diagnosticadas considerando que o assédio é organizacional, institucional — violência instituída oficialmente, legitimada, aplicada e perpetuada pelos modos de gestão, gestores e até pelos próprios servidores.

Sobre o teletrabalho, Ana Magnólia apontou que é o modo atual de reprodução do capital, que tem seus modos de gestão: capital industrial, de serviços, financeiro e, agora, digital.

E existe uma estratégia, continua a professora, para que essa modalidade se perpetue de modo que enfraqueça o movimento dos trabalhadores e a possibilidade de construção do coletivo para que o domínio seja feito de uma maneira muito mais fácil, confortável, através de um controle remoto. Confira a palestra da professora Ana Magnólia:

Sobrecarga e adoecimento

A segunda mesa do período da tarde tratou das “Condições de Trabalho: Hiperconexão, sobrecarga e adoecimento” e contou com a participação do médico do trabalho e assessor de saúde do Sintrajufe/RS, Geraldo Azevedo, da assessora técnica da Fenajufe e especialista em gestão pública Vera Miranda e da diretora de saúde e relações de trabalho do Sintrajufe/RS Mara Weber.

O médico Geraldo Azevedo apresentou Pesquisa de Saúde, Trabalho Remoto Compulsório e sob Confinamento com 426 participantes (entre out/2020 e mar/2021) que, entre outros pontos, indicou que:

  • quantidade de trabalho aumentou para 43,5%;
  • duração da jornada de trabalho aumentou para 40,5%;
  • trabalho nos finais de semana = 35,5%;
  • mesas, cadeiras, equipamentos de informática e conexão piores que no setor de trabalho (para 44-45%; exceto equipamentos, 29%);
  • maior dificuldade de concentração para 37,1%;
  • dificuldade de concentração em casa aumenta de acordo com o número de pessoas em casa;
  • melhorou o número de pausas e a duração das pausas.

Dessa forma, diante dos dados levantando torna-se indispensável discutir com as administrações: o uso e limitações para o trabalho realizado por aplicativos; reposição de vagas; parametrização de metas para o trabalho remoto não superiores às do presencial; compensação para os gastos com energia/internet/equipamentos de informática e mobiliário; avaliação permanente das condições de trabalho. Acompanhe:


“Há um limite para que o trabalhador seja produtivo”

A assessora técnica da Fenajufe Vera Miranda voltou ao debate e aprofundou alguns aspectos e consequências da hiperconexão atrelada ao debate do “tempo subjetivo”, ou o tempo necessário para refletir, descansar, abordado na fala da professora Magnólia. Nesse sentido, com as demandas diárias, ao fim do dia, o trabalhador está exaurido devido ao tempo de conexão.

Essa discussão, porém, traz a questão da necessidade de olhar com mais atenção para a jornada de seis horas como ponto fundamental em um trabalho com elaboração intelectual e, tendo, claro, as pausas necessárias. Vera ressaltou que há um limite para que o trabalhador seja produtivo: seja por exaustão física, seja por exaustão intelectual.

Esse tempo está ultrapassando os limites da produtividade: metas que passaram a não caber na jornada, inclusive com aumento de metas e redução de equipe. Ou ainda sobrecarregar em produtividade o que se quer reduzir em estrutura.

Vera frisou que é importante observar o tempo de conectar e desconectar – mesmo que essa desconexão venha carregada de uma sensação de estar “perdendo” algo ao não olhar o celular por alguns minutos. É na desconexão que você dá espaço para o ócio, que é indispensável para a saúde mental e fundamental para criatividade e inovação. Assista a palestra da Vera Miranda:

Precarização e aumento da violência no trabalho

A última convidada a falar no painel foi a diretora de saúde e relações de trabalho do Sintrajufe/RS Mara Weber, que destacou que falar sobre a saúde no trabalho significa entender o momento do capitalismo e do neoliberalismo que tem uma forma de organização que está no limite da barbárie – sem compromisso com a ética. Havia mediações do capital para a base que hoje o neoliberalismo implodiu: precarização e aumento da violência no trabalho.

Mara alertou para o perfil dos “multitarefas”, colocado principalmente nas mulheres que sofrem com a exaustão. Nesse cenário, houve aumento do assédio moral e sexual, da síndrome de burnout ou síndrome do esgotamento profissional, solidão, suicídio no trabalho. Confira a fala da Mara Weber:

Homenagens

Ao final dos debates, o ConSaúde homenageou médico do trabalho Rogério Dornelles, da assessoria de saúde do Sintrajufe/RS e a médica, pesquisadora e professora Margarida Maria Silveira Barreto – que tanto contribuíram com a luta das trabalhadoras e trabalhadores do PJU e MPU. Veja:

A programação para amanhã está assim definida:

7/8 – Domingo

9h30 - Plenária livre - apresentação e debate das propostas oriundas dos debates dos estados e desdobramentos do debate das mesas. Aprovar a resolução do ConSaúde para encaminhamento à Diretoria Executiva da Fenajufe.

12h30 – Encerramento.

A Comissão Organizadora do Encontro Nacional de Saúde é composta pela coordenadora Soraia Marca e pelos coordenadores Edson Borowski e Fabrício Loguercio.

 Veja aqui as fotos.

 

Raphael de Araújo

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