Homenagem póstuma e oficina de bonecas africanas marcam segundo turno do Encontro Nacional de Pretas e Pretos neste sábado (19)

Atividades trouxeram momentos de nostalgia e descontração após a efetivação do Coletivo Nacional da Fenajufe do segmento

O período vespertino do II Encontro de Pretas e Pretos, foi iniciado com uma homenagem póstuma ao servidor aposentado Amaro Grassas Faustino. Falecido no dia 1 de agosto, o servidor aposentado do TRF- 2, esteve presente no “I Encontro de Pretas e Pretos”, em 2022 e participava do Departamento de Combate ao Racismo do Sisejufe/RJ e do núcleo de Oficiais de Justiça do sindicato.

O coordenador Luiz Cláudio Correa dividiu a mesa com Patrícia Fernanda Santos, integrante do Coletivo de Combate ao Racismo do Sisejufe/RJ e Magali Dantas, membra fundadora e articuladora do “Grupo de Trabalho para Direitos Humanos, Equidade de Raça, Gênero e Diversidade” da SJRS e autora da “Pesquisa de Ações Afirmativas e de Equidade no Poder Judiciário”, representando também o Sintrajufe/RS.

A diretora do Sisejufe/RJ, Neli Rosa emocionou os presentes ao relembrar sua trajetória de luta, atuação e amizade dentro e fora do sindicato. Após, foi apresentado um vídeo com as imagens que podem ser conferidas (AQUI)

A retomada dos debates se deu com o painel “A importância do Associativismo no cenário antirracista do Judiciário brasileiro com o juiz Fábio Esteves do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) e Rosana Fernandes (Solidarity Center)

Em sua manifestação inicial, o Juiz discorreu sobre as dificuldades de chegar aonde chegou e da solidão enfrentada dentro do exercício da carreira provocada pela questão da sua cor e raça, acentuada principalmente por ter performado como uma pessoa branca. Segundo ele, “os estereótipos performam a vida das pessoas e prescrevem onde as pessoas devem estar.” “Minha competência é questionada cotidianamente não por causa de currículo e sim por este corpo estar num lugar estranho ou esse lugar (magistratura) ainda estranhar esse corpo”.

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Com um discurso antirracista contundente, Rosana Fernandes afirmou que o associativismo é um conjunto de organizações que lutam por uma sociedade diferente e “pensando numa sociedade diferente é pensar, economicamente, socialmente e politicamente o sistema capitalista. A militante reforçou que “o capitalismo é hegemônico no mundo todo, extremamente excludente e determinante. “É ele quem determina, na nossa sociedade, quem vai ter voz e direitos, quem serão as pessoas que terão oportunidades e que exclui a população negra em especial.”

Ainda compôs a mesa, como convidada, Lídia Rafaela Barbosa dos Santos, integrante da coordenação geral de políticas de envelhecimento ativo e saudável do Ministério dos Direitos Humanos.

Lídia trouxe a reflexão quanto à perspectiva do envelhecimento plural. Ela pontuou que mesmo sendo a maior parte da população do País, negras e negros não são os que mais envelhecem e isso tem fundamento no racismo. Ela explicou que a secretaria trabalha a perspectiva do envelhecimento desde a concepção. “Quem tem direito a nascer?” Quem tem direito a viver?” “Quem tem direito efetivamente de passar pela etapa da velhice, e como passar?”. Integrante da Marcha Mundial de Mulheres , Lídia convidou todos os presentes para participar da construção da “Marcha de Mulheres Negras” que ocorrerá em Brasília em 2025.

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Logo após essa sequência de falas, os participantes tiveram um momento de relaxamento com uma oficina de boneca Abayomis, ministrada pela artesã Maria Sineide de Lima. Sineide também é pedagoga e trabalha com crianças especiais onde desenvolve a confecção das bonecas como arteterapia.

A boneca abayomi foi criada pelas mulheres escravizadas a bordo de navios negreiros, vindos da África, na época da escravidão. As mulheres as confeccionavam com pedaços de suas saias, único pano disponível no ambiente hostil e foi um recurso usado para amenizar a dor e distrair as crianças. Considerado um amuleto até hoje, essas bonecas, assim como os vodus haitianos, são legadas de uma cultura milenar.

No Brasil, além de nome próprio, designa bonecas de pano artesanais, muito simples, a partir de sobras de pano reaproveitadas, feitas apenas conosco, sem o uso de cola ou costura, de tamanho variando de 2 cm a 1,50 m, sempre negras.

Finalizando os trabalhos do dia, o professor Leonardo Santiago, autor do livro “Fundamentos das Ações Afirmativas – Uma questão de liberdade de validade”, comandou o painel Ações afirmativas no Judiciário”

Santiago iniciou sua manifestação citando passagem do livro da escritora e ativista Lélia Gonzales, “Lugar de “Negro”, (reeditado recentemente) que, retrata o golpe militar de 64. Na publicação citada, os militares entenderam como necessário impor uma pacificação da sociedade civil. Nas palavras de Lélia, “pacificação significa o silêncio a ferro e fogo dos setores populares e de sua representação política, ou seja, onde se lê pacificação, entenda-se repressão”.

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O evento se encerra amanhã, domingo (20) com a programação:

20/10 (Domingo)

  • 9h – Apresentação: A criação de um Protocolo para Julgamento com Perspectiva de Raça no Judiciário Brasileiro
    ✓ Roberta Liana Vieira – Coordenadora em Formação e Aperfeiçoamento Jurídico da Escola Judicial do TRT4, integrante do Grupo de Trabalho do CNJ criado para tratar do Protocolo de Julgamento
  • 9h30 – Perguntas à palestrante
  • 10h – Respostas da palestrante
  • 10h05 – Oficinas de resistência: construção de demandas contra o racismo institucional
  • 11h40 – Exposições dos grupos
  • 12h10 – Intervalo para almoço
  • 14h – Apresentação de propostas para encaminhar à Diretoria Executiva da Fenajufe
  • 15h – Encerramento
Joana Melo
Jornalista da Fenajufe