Organização Sindical

“Todo movimento sindical é portador de uma determinada ideologia. O sindicalismo produz, ou assimila, de modo consciente ou inconsciente, representações sistemáticas ou difusas, sobre o Estado, a sociedade, os objetivos e os meios da luta sindical”[1]

Panorama Mundial

 

Crise do Sindicalismo Internacional

 

O movimento sindical internacional passa hoje por um dos mais agudos momentos de crise de sua história. A ofensiva patronal contra os trabalhadores é cada vez mais intensa e as organizações sindicais não conseguem responder à altura, fato que tem levado a uma profunda deterioração das condições de vida e trabalho dos assalariados.

 

O número e a radicalidade dos movimentos grevistas nos países capitalistas centrais vem declinando significativamente. As greves gerais, antes eventos de ocorrência comum, quase não se registram. As ocupações de fábricas, os enfrentamentos de ruas e outras formas radicalizadas de luta, salvo algumas exceções, praticamente sumiram das mobilizações operárias.

 

As taxas de sindicalização permanecem extremamente baixas levando a uma contínua perda de força e representatividade dos sindicatos. Os dados da tabela abaixo são uma constatação desse quadro. Nunca depois da 2º Guerra Mundial os índices de sindicalização atingiram patamares tão baixos.

 

Taxas de sindicalização - 1988

País

Taxa

País

Taxa

França

12%

Países Baixos

25%

Espanha

16%

Suíça

26%

EUA

16,8%

Japão

26,8%

Turquia

18,8%

Portugal

30%

Grécia

25%

Alemanha

33,8%

                Fonte: ANTUNES, Ricardo. Adeus ao Trabalho?

 

As causas desse fenômeno precisam ser apontadas e discutidas. Nas últimas décadas, a burguesia mundial introduziu profundas modificações no modo de produção capitalista. Para tentar reverter a tendência à queda nas taxas de lucro, o capital, particularmente, o seu segmento monopolista, fração hegemônica da burguesia, vem efetivando novas técnicas de produção e novos modelos de gerenciamento da força de trabalho. A robótica, a microeletrônica, o toyotismo, os CCQs, a terceirização, entre outros, são algumas das alterações do capitalismo que provocam impactos relevantes nas relações de produção.

 

Ao mesmo tempo em que implementa essas alterações, o capital monopolista investe na superestrutura jurídica, desregulamentando as relações de trabalho, retirando direitos dos trabalhadores, destruindo o chamado “estado de bem-estar” nos países capitalistas centrais. A mudança no chamado “padrão de acumulação” do antigo modelo fordista/taylorista para o toyotista foi uma arma decisiva para o incremento da extração de mais-valia dos trabalhadores. Além disso, funcionou como mecanismo de cooptação da classe ao supostamente democratizar as relações de trabalho no “chão da fábrica”. 

As modificações operadas no âmbito das empresas e nas relações de trabalho geraram uma situação de diferenciação entre os trabalhadores. O toyotismo, o modelo sueco, entre outros, exigem, de um lado, trabalhadores extremamente qualificados, polivalentes, dotados de certo grau de autonomia para resolução de problemas e com certa estabilidade no emprego. De outro, esse mesmo modelo convive com trabalhadores pouco qualificados, terceirizados, totalmente precarizados em sua relação de emprego.

Antunes[2] analisando o fenômeno sustenta:

“Evidencia-se, portanto, que ao mesmo tempo em que se visualiza uma tendência para a qualificação do trabalho, desenvolve-se também intensamente um nítido processo de desqualificação dos trabalhadores, que acaba configurando um processo contraditório que superqualifica em vários ramos produtivos e desqualifica em outros”.

Tal realidade contraditória ao não ser analisada sob a ótica da economia política dos trabalhadores leva o movimento há um impasse. Coexistem simultaneamente trabalhadores com características bastante diferenciadas ainda que ambas submetidas à mesma lógica de exploração e dominação. Na medida em que não se desvenda as leis de desenvolvimento do capitalismo e se adota uma postura de perplexidade frente às manobras do capital, os trabalhadores ficam desarmados e abrem o campo para a continuidade das investidas da burguesia.

Outro aspecto relevante diz respeito ao desemprego provocado pelas inovações tecnológicas. A chamada “terceira revolução industrial” ao utilizar em larga escala os recursos da informática, robótica e automação eliminaram um sem número de profissões nas empresas. É o chamado desemprego tecnológico ou estrutural. Atinge setores administrativos e principalmente produtivos das empresas. O resultado é uma diminuição absoluta no contingente operário mundial, em particular nos países de capitalismo avançado. Quadro esse agravado pelo processo recessivo mundial que eleva sobremaneira a taxa de desemprego.

Nessa questão é preciso abrir um parêntese para esclarecer alguns pontos. Mesmo observando-se uma diminuição relativa do proletariado industrial, observa-se uma contínua ampliação do número de trabalhadores assalariados, isto é, do proletariado em geral. Para aqueles que sustentam o fim da sociedade do trabalho baseado numa suposta tendência à eliminação da classe que vive do trabalho esse dado é uma “pá de cal” em suas tergiversações. O trabalho mantém sua posição de centralidade nas sociedades capitalistas.

A redução do contingente da classe operária não segue um ritmo que permita chegar àquelas conclusões. Em alguns países, aonde a reestruturação produtiva atingiu níveis elevados, o proletariado industrial aumentou seu contingente. É o caso no qual ao mesmo tempo em que se efetivou o toyotismo e a qualificação do trabalho, ampliou-se consideravelmente o trabalho temporário, parcial, terceirizado. Reduz-se o operariado tradicional com vínculos mais consistentes com as unidades produtivas, mais se amplia o operariado com relações precárias.

Hegemonia da Social Democracia

Para efetivar tantas e tão significativas alterações no capitalismo, a burguesia foi auxiliada pelas direções pelegas, reformistas e sociais-democrata majoritárias no movimento sindical internacional. Ao abandonar o horizonte socialista e recusar convocar os trabalhadores a uma tenaz resistência às medidas do capital, essas direções foram coadjuvantes no processo de reestruturação produtiva e elevação da exploração capitalista. Certamente que houve grandes lutas de resistência por parte de parcela do movimento e dos trabalhadores de forma geral. Todavia, foram lutas minoritárias, isoladas e que foram vítimas de brutal repressão por parte dos patrões.      

Ao priorizar a conciliação e a negociação em detrimento do conflito e da luta, a direção social-democrata levou os trabalhadores a um quadro de inação e passividade, elementos decisivos para implementação das políticas de superexploração capitalista. À medida que a burguesia monopolista avançava, a direção majoritária do movimento recuava, “negociando” sempre num patamar mais rebaixado. A palavra de ordem era “negociar para perder menos direitos”, buscando-se apresentar “propostas realistas” frente ao “refluxo dos trabalhadores”.

As posições classistas e proletárias foram praticamente liquidadas do movimento, golpeadas pela repressão patronal, muitas vezes auxiliada nessa tarefa pelos representantes da burguesia no seio do movimento. Um dos exemplos mais marcantes foi o do Japão. Até o final dos anos 50, o movimento sindical japonês era extremamente combativo e empreendia grandes mobilizações para enfrentar as ofensivas do capital. Em seguida, a burguesia e seus asseclas no sindicalismo promoveram um verdadeiro massacre aos dirigentes combativos, afastando-os dos locais de trabalho e das entidades. O resultado disso é o quadro de atraso e oportunismo reinante hoje no movimento sindical japonês. O carreirismo, a cooptação dos dirigentes é tamanha que hoje um dos principais requisitos para chegar às gerências das fábricas é ter passagem pelas direções dos sindicatos. Essa situação não é observada apenas nesse país, verificando-se em maior ou menor medida em todos os países capitalistas.

A adoção da concepção social-democrata de forma majoritária no movimento sindical internacional e conseqüente abandono por muitos das concepções socialistas e proletárias gerou outros graves problemas. O carreirismo, o cupulismo, a falta de democracia no movimento, a apropriação de recursos financeiros dos sindicatos, a prática de delação contra os ativistas classistas, são algumas das mazelas observadas nas entidades sindicais.

Outro resultado nefasto é a crescente institucionalização e burocratização dos sindicatos. As entidades viraram instituições com propostas para administrar e gerenciar o capitalismo. No máximo, atenuar a superexploração do capital sobre os trabalhadores. Ser propositivo virou sinônimo de “sindicalismo moderno”. Sindicalismo classista e de luta, segundo essas concepções, é um anacronismo de “dinossauros” que insistem em falar em luta de classes. Para elas, o sindicato e seus dirigentes devem intervir em todos os fóruns, em conjunto com governos e patrões, e apresentar sugestões que garantam o desenvolvimento, o emprego e a renda da sociedade. Em verdade, todo um palavreado oco, verdadeira cortina de fumaça, para tentar encobrir a mais pérfida traição de classe.

Com esse quadro, consegue-se entender o estado de marasmo em que se encontra a maioria do movimento sindical internacional. O capital opera alterações nas relações de trabalho, nas técnicas de produção, ampliando a exploração sobre os trabalhadores. Introduz novas técnicas de gestão da força de trabalho, combinando elementos de cooptação com repressão brutal, quando necessário. Ataca violentamente os direitos dos trabalhadores, desregulamentando direitos e precarizando suas condições de vida e trabalho. Diferencia e fragmenta a classe, ao efetivar políticas que promovem tais diferenciações. Esse é um lado da questão.

O sindicalismo, de forma majoritária, efetiva uma política que conduz os trabalhadores há um recuo permanente frente à ofensiva patronal. Ao adotar a social-democracia como concepção política-ideológica não efetiva um combate às investidas da burguesia. Pelo contrário. Acaba assumindo o papel de co-responsável pela efetivação das novas formas de espoliação e extração de mais-valia dos trabalhadores.

Em conseqüência dessa concepção, joga o movimento no imobilismo e a reboque das manobras do capital. A burocratização e institucionalização são outras características majoritárias do movimento. Seria esperar muito da classe trabalhadora internacional, enredado nas teias do oportunismo sindical, que levasse a frente um combate frontal ao capitalismo. O grande percentual de dessindicalização deve-se também muito a essa realidade. Essas são as causas fundamentais da profunda crise que o sindicalismo internacional enfrenta.

Mesmo assim, a classe trabalhadora internacional tem conseguido realizar algumas grandes mobilizações nos últimos anos. Em 1995 houve a histórica greve dos servidores públicos franceses, depois engrossada por outros setores, contra o Plano Juppé. Na Coréia do Sul, greve geral dos trabalhadores em 1997. Nos Estados Unidos, os trabalhadores empreenderam grandes greves na GM e UPS. Na Europa, greve dos trabalhadores da Renault. Na América Latina, grandes mobilizações operárias na Argentina e levantes populares no Paraguai e Equador. No final de 1999, houve a grande manifestação de protesto durante a III Conferência da OMC em Seattle-EUA. Esses e muitos outros movimentos de resistência demonstram o grau de revolta dos trabalhadores.

Apesar das vacilações e até sabotagem de direções colaboracionistas, o proletariado internacional vem lutando. As contradições do capitalismo tendem a se agudizar, levando a burguesia internacional a querer impor um nível de exploração ainda maior. Tal situação levará as contradições de classe a níveis insuportáveis. Está se descortinando um horizonte de extremo acirramento da luta de classes a nível global. As perspectivas são alvissareiras. Os setores classistas e proletários devem envidar todos os esforços para ajudar o proletariado internacional a empreender novos e mais vigorosos movimentos de contestação da ordem. Ao mesmo tempo, incentivar o surgimento de novas lideranças a fim de que as concepções nocivas aos trabalhadores sejam sepultadas.

Por um Sindicalismo Internacionalista e Proletário

Uma das tarefas prioritárias do sindicalismo classista é lançar as bases para a reconstrução de um movimento sindical internacional de conteúdo classista e proletário. Após a derrocada da III Internacional, o movimento operário internacional ficou desprovido de uma organização que impulsionasse a luta classista de forma conseqüente em escala global.

A criação da IV Internacional e suas vertentes posteriores não logrou cumprir esse objetivo. Da mesma forma, as centrais sindicais do pós-guerra.  A Federação Sindical Mundial (FSM) tinha suas políticas subordinadas aos interesses do revisionismo soviético, a CMT, porta voz da democracia cristã e a CIOLS, criada a partir da fusão da AFL (EUA), a TUC (Inglaterra) e a CIO (EUA), torna-se o braço da CIA no movimento sindical internacional.  Destas, apenas a CIOSL manteve expressão a nível mundial, convertendo-se na central sindical mundial da social-democracia, ou seja, não abandonou suas origens de instrumento a serviço do capital monopolista internacional.

Para alavancar a organização dos trabalhadores a nível internacional é preciso edificar uma Central Sindical de nítido caráter proletário e anticapitalista. Que tenha em seu programa e na sua prática política e organizativa um perfil claramente socialista e revolucionário. Com a expansão do capitalismo a praticamente todos os rincões do planeta e a todas as esferas da vida social, mais do que nunca a consigna do Manifesto Comunista de Marx e Engels “proletários de todos os países uní-vos” torna-se essencial. Para superar o atraso político e organizativo do movimento dos trabalhadores é preciso criar os instrumentos organizativos necessários. As centrais sindicais e os sindicatos de todos os países precisam se transformar em “centros de organização” do proletariado internacional na sua luta política, ideológica e econômica contra o capital e pela edificação da sociedade socialista rumo ao comunismo. Como dizia Lênin[3]:

“Trabalharemos com energia nos sindicatos, trabalharemos em todos os terrenos para difundir a teoria revolucionária do marxismo entre o proletariado e para criar a ‘fortaleza’ da organização de classe. O resto virá como conseqüência”.

 

A Situação no Brasil

CUT: Os Impasses Persistem

O movimento sindical brasileiro vive momento de grande impasse político causado pela mudança gradativa de rumo da sua principal referência política-organizativa, representada pela Central Única dos Trabalhadores. Esta, gestada nas lutas operárias do ABC paulista no final da década de 1970, nasceu com um programa sindical avançado, sustentando uma ruptura com o então modelo sindical getulista e colocando em seu norte estratégico a defesa do socialismo. Passados quase vinte anos, a política majoritária da CUT sofreu uma forte inflexão, restando muito pouco das suas posições originais.

Por esta e outras razões, o quadro sindical no Brasil não difere muito do contexto internacional. Além de persistir uma leva de pelegos de direita (Força Sindical, USI, CGT), as concepções reformistas e da social-democracia são hegemônicas no sindicalismo cutista. A insistência na política do “propositismo” segue levando o movimento à institucionalidade em detrimento da luta.

Os últimos Congressos Estaduais e Nacional da CUT foi a reafirmação dessa linha política. Evento burocratizado caracterizou-se pela falta de debate de fundo sobre os problemas essenciais da concepção e prática sindical no país, postura esta que representa um claro cerceamento ao direito dos trabalhadores de discutirem e decidirem sobre os rumos da luta num debate sério e profundo. As posições da corrente majoritária e seus aliados ficaram mais sedimentadas e seguem no rumo de sua consolidação. Os setores proletários e classistas mantêm seus espaços na Central, mas sem conseguir dar o “norte” político da entidade.

Para que não pairem dúvidas sobre a concepção política majoritária na Central, a seguir apresentaremos excertos de sua tese ao VII Concut. No tópico referente ao Sistema Público de Emprego defende[4]:

“Para isso devemos lutar desde já pela complementaridade entre ações nas áreas de seguro-desemprego, intermediação de mão-de-obra, requalificação profissional, micro-crédito (Proger e Bancos do Povo), de um lado, e entre estas e uma nova política de desenvolvimento econômico com distribuição de renda. A Central Única dos Trabalhadores deve ser protagonista desta agenda, formalizando ações e programas articulados de políticas de emprego e resgatando a importância de se construir o Sistema Público de Emprego”.

 

Sustentar que uma das ações políticas da Central seja lutar pela complementaridade nas áreas de intermediação de mão de obra, requalificação profissional, micro-crédito e por uma política de desenvolvimento econômico com geração de renda é uma inequívoca demonstração de adesão à ordem vigente. Intermediação de mão de obra e requalificação profissional são objetivos inteiramente descolados de um sindicalismo classista. Na verdade são políticas a serem efetivas pela burguesia e seus governos de plantão.

O chamado desenvolvimento econômico com geração de renda é outro embuste. Primeiro que não se esclarece que desenvolvimento econômico é esse. Como estamos nos marcos do capitalismo dominado pelos monopólios, desenvolvimento econômico somente pode significar a ampliação do processo de valorização do capital, isto é, a superexploração da força de trabalho com apropriação de mais-valia. Com as novas formas de gestão da força de trabalho e as novas tecnologias empregadas no processo produtivo, desenvolvimento econômico é levar aos últimos limites a espoliação física e mental da classe trabalhadora.

Em relação à geração de renda a afirmativa é completamente vazia. Qualquer sociedade capitalista gera renda. Através da utilização das forças produtivas e conseqüente uso do trabalho humano, riqueza ou valor é criado, exceto a renda fundiária que é gerada através de outros mecanismos. O problema para os trabalhadores não é esse. A questão é que a quase totalidade da riqueza ou renda é apropriada pelos capitalistas. Aliás, o Brasil é um dos campeões mundiais de concentração de renda, ou seja, o grau de apropriação pela burguesia da riqueza gerada é um dos mais altos do mundo. A política correta ainda nos limites do capitalismo seria a reapropriação da renda produzida pelos trabalhadores.

Outro grave equívoco da concepção política majoritária da Central é quanto à efetivação de alternativas políticas e econômicas dentro do capitalismo. Uma das mais badaladas ultimamente é construção de uma “economia solidária”. Pinçamos algumas formulações sobre essa proposta[5]:

“A implementação de políticas alternativas de mercado, através da formação de redes e de sistemas de comercialização direta é indispensável para a viabilização dos empreendimentos. A criação de um selo de produtos e serviços da economia solidária é uma estratégia de inserção deste segmento no mercado, articulado a mecanismos de estabelecimento de critérios de organização e funcionamento dos empreendimentos”.

 

Uma formulação dessa natureza não deixa a menor dúvida de quanto está avançado no interior da CUT o processo de acomodação e adequação à sociedade do capital. Uma central de trabalhadores sugerir que se deve buscar a implementação de políticas alternativas de mercado, estabelecimento de critérios de organização e funcionamento dos empreendimentos, entre outras do gênero, revela o completo abandono de uma perspectiva de transformação social. Economia solidária na perspectiva dos trabalhadores é a economia socialista, planificada, com controle proletário dos meios de produção.

Solidariedade, fraternidade são valores humanos completamente incompatíveis com o capitalismo. Defender a efetivação de modelos e/ou políticas alternativas nos marcos do capital é apostar no atraso teórico, político e organizativo do movimento. É lançar confusão e atrapalhar a tomada de consciência socialista da classe trabalhadora. Sem falar na absoluta inconsistência e inviabilidade econômica de tais empreendimentos. Tais formulações refletem uma visão de mundo antagônica aos interesses históricos dos trabalhadores, com graves conseqüências na ação prática do sindicalismo brasileiro. Em suma, é a reprodução da ideologia burguesa no seio da classe trabalhadora.

A necessidade de debater essa questão é da maior importância. Como dito, uma concepção política-sindical tem reflexos diretos na condução prática do movimento. Mais ainda por se tratar de uma visão contrabandeada da classe dominante para dentro da organização e luta dos trabalhadores. A burocratização e institucionalização do movimento, o afastamento da base, a falta de democracia nas entidades, as disputas autofágicas nas eleições sindicais, a prioridade na negociação em detrimento da mobilização, a busca desesperada por resultados imediatos, entre outras mazelas, são posturas largamente observadas no sindicalismo do país, refletindo dadas posições políticas-ideológicas.

Edificar um Sindicalismo Classista, Democrático e de Base

Avançar no Aspecto Político-Ideológico

Uma das questões fundamentais é lutar pela construção de uma consciência classista e socialista no movimento dos trabalhadores, pressuposto básico, do qual decorrem todos desdobramentos da atividade sindical, das ações políticas aos aspectos organizativos. Uma firme direção estribada na concepção socialista tem amplas condições de levar a luta dos trabalhadores a resultados vitoriosos. Junto a isso, vincular a teoria proletária às condições de trabalho e vida da classe, de forma que a visão de mundo que negue a sociedade do capital floresça e se alimente com as experiências concretas dos trabalhadores. É decisivo sedimentar entre os trabalhadores a consciência de classe proletária e a visão de que no capitalismo não há saída que seja lhes favorável, de modo que qualquer proposta neste sentido tem um inequívoco propósito de enfraquecer a sua organização e resistência.

A luta ideológica é um dos principais instrumentos utilizados na luta de classes. E, sabedora disso, a burguesia vem ao longo dos tempos sofisticando seu discurso/prática e criando armadilhas ideológicas para os trabalhadores. Política de parceria, 5s, qualidade total, reengenharia humana, etc., são algumas das armadilhas ideológicas da dominação, efetivadas com o objetivo de “ganhar as mentes e corações” dos trabalhadores para os interesses da corporação. Se as direções, os militantes de base e os trabalhadores em geral possuírem uma forte concepção classista, a probabilidade de sucesso da empreitada do capital fica muito mais fragilizada. Da mesma forma, reduz-se a chance de cooptação dos trabalhadores, das suas direções e também de êxito das concepções burguesas no âmbito do proletariado.

Um sindicalismo de concepção classista sempre deverá apostar todas as energias na construção de amplas mobilizações. Impulsionar os trabalhadores para lutas, greves, manifestações é tarefa básica dos sindicatos. A prioridade é a luta organizada, direta e decidida dos trabalhadores. Os processos de negociação podem ser realizados com governos e patrões, mas a partir da deflagração do conflito e não como estratégia primeira, conforme tem sido a regra das concepções majoritárias do movimento. A história tem demonstrado que somente a partir da pressão é que as reivindicações dos trabalhadores têm alguma possibilidade de atendimento e oposto a isto, tem nos ensinado da pior forma que a ausência de pressão tem sido a grande responsável pelo fortalecimento das políticas de massacre do governo, levando os trabalhadores a uma situação de arrocho e retirada de direitos sem precedentes na história.

Um aspecto essencial é fazer a devida vinculação entre as lutas específicas com a luta geral contra o capital. Para não se correr o risco do movimento cair no economicismo. Muitos trabalhadores não compreendem que certos problemas específicos, do local de trabalho e/ou da sua categoria, tem origem nas políticas gerais da burguesia e do próprio funcionamento do capitalismo. Dessa forma, além de se educar os trabalhadores e ajudar no despertar da consciência socialista, garante-se mais consistência e abrangência à luta sindical.

Avançar na Democracia do Movimento

Uma das piores mazelas do movimento sindical é a falta de democracia em muitas entidades. O atropelar das posições divergentes por parte dos setores majoritários é muito comum nos fóruns dos trabalhadores. Não se faz a discussão com profundidade e respeito em relação às propostas que divergem. Prevalece a política do “tratorismo”. A lógica dominante é: se temos a maioria vamos “passar o rodo” na minoria, às vezes sem nenhuma discussão em cima das posições apresentada pelo setor minoritário. Isso ocorre nos fóruns gerais e no interior das entidades. É preciso eliminar essas práticas. As posições divergentes precisam ser respeitadas e deve ser garantida a mais ampla discussão em cima das posições colocadas.

A questão das eleições sindicais é outro problema gravíssimo. Muitas eleições sindicais transformaram-se em verdadeiras guerras fratricidas. Muitas vezes desembocando em agressões físicas e até em mortes. O pior é que muitas disputas não se dão em cima de concepções políticas e sindicais e sim meramente pela disputa do aparelho sindical. No campo da CUT tal situação vem crescendo assustadoramente. Os adversários se vêm como “inimigos de morte” e o vale-tudo prevalece. Toda sorte de espúrias e sórdidas manobras são realizadas para garantir-se a vitória no pleito, principalmente pelas chapas situacionistas. A começar pelas tentativas de impedir a inscrição da chapa oposicionista, indo até a mais escandalosa utilização da máquina sindical. Ameaças, intimidações e violências também fazem parte do “cardápio”. É uma grave degeneração de certas direções, já completamente contaminadas pela concepção burguesa de mundo.

Garantir democracia no movimento sindical significa também dar todas a transparência às ações políticas e administrativas da entidade. É necessário que todas as decisões de fundamental interesse dos trabalhadores se dêem nos fóruns da categoria, como assembléias e congressos. Estes necessitam ter certa regularidade e devem ser garantidos os mais amplos mecanismos de participação dos trabalhadores. Há mesma coisa em relação à gestão financeira e administrativa da entidade. Os trabalhadores devem aprovar o orçamento do sindicato em assembléias e/ou congressos. Os gastos e investimentos da entidade devem ser monitorados pelos trabalhadores. O mesmo em relação à administração da entidade. É comum ver-se, por exemplo, contratações de funcionários para as entidades obedecendo “indicações” ou favorecimento político. Deve-se estabelecer critérios objetivos e transparentes para isso e para os demais aspectos da administração sindical.

Outro elemento relevante para a construção da democracia do movimento é quanto à estrutura diretiva das entidades. O sindicato tem que ser concebido e vivenciado enquanto espaço coletivo de coordenação da luta dos trabalhadores. Isso requer a destruição das posturas autoritárias e mandonistas. Na organização sindical não pode haver caciques, “chefes”, as “referências iluminadas”, o presidente, o coordenador geral. Isso é um caldo de cultura altamente favorável ao personalismo e carreirismo. A substituição do modelo presidencialista pela estrutura colegiada é um importante passo na direção de garantir uma direção democrática, horizontal, menos permeável à ação dos oportunistas e carreiristas sindicais. Obviamente que apenas isso não assegura a eliminação desses malefícios. Entretanto, combinada com uma direção combativa e classista e com mecanismos de controle por parte da base é um grande avanço.

Na construção da democracia interna um avanço significativo foi a implementação em algumas entidades do critério da proporcionalidade nas eleições sindicais. Instrumento democrático por excelência ao permitir representação na direção de companheiros respaldados por votos de trabalhadores, ainda que não majoritários, a proporcionalidade, principalmente a qualificada, garante que as diferentes posições político-ideológicas existentes na categoria estejam presentes no sindicato. Ao mesmo tempo, evita a disputa tipo plebiscito, que ocorre nas eleições majoritárias, onde as chapas concorrentes entram numa verdadeira “briga de foice”, visto que a ou as perdedoras não terão qualquer espaço na direção da entidade. O argumento de que as experiências de proporcionalidade nas eleições não funcionam, que inviabilizam as ações da entidade, etc., não se sustenta. Muitas entidades vivenciam essa forma de escolha de dirigentes e funcionam muito bem. As concepções diferenciadas são contempladas nas diretorias, permitindo um salutar debate de idéias e visões na condução da luta. Apenas àqueles desacostumados ou contrários às práticas democráticas e visões plurais do movimento, desvirtuam o instituto da proporcionalidade, fazendo-a desta um aspecto negativo da atividade sindical.

Avançar na Organização a Partir dos Locais de Trabalho

O pilar fundamental onde precisa se assentar o movimento sindical é na organização por local de trabalho. É lá que se dá a exploração da classe trabalhadora. É onde a luta ideológica toma dimensões mais contundentes. É a arena principal da luta de classes e no qual as contradições do capitalismo estão mais expostas. As resoluções congressuais da CUT e de muitas entidades sindicais apontam como tarefa essencial organizar os trabalhadores a partir do local de trabalho. Todavia, concretamente muito pouco é realizado nesse sentido. Persiste a condução do movimento “de fora para dentro”, isto é, chama-se os trabalhadores para a luta do lado de fora dos locais de trabalho. Em algumas entidades dá certo, mas na imensa maioria não funciona.

Um dos problemas que o sindicalismo vem enfrentando é o afastamento das direções dos locais de trabalho. Isso decorre de várias causas. Uma é o afastamento imposto pelo patronato aos sindicalistas combativos. Nesse caso pode ser via demissão ou proibição de entrada no local de trabalho dos dirigentes.  Uma segunda causa é a acomodação e burocratização que tomou conta de parcela da direção. Essa prefere ficar dentro da sede da entidade, chafurdada na burocracia. Como a origem da acomodação e burocratização é o abandono ou não assimilação das posições classistas e proletárias, esses dirigentes descartam um contato direto com os trabalhadores até para não serem cobrados e questionados. Optam pela terceirização das ações sindicais de base. Uma terceira causa é visão de que basta uma boa agitação na porta do local de trabalho, com carro de som potente e palavras de ordem radicais, que os trabalhadores vão aderir à luta. Com essa avaliação, a direção não investe de fato na organização de base. Nas três situações, o resultado é semelhante: muita dificuldade para efetivar a mobilização, pouca participação dos trabalhadores ou mesmo não efetivação da luta.

Uma das políticas decisivas para reverter a crise do sindicalismo e lançar as bases para a construção do movimento com caráter classista e proletário é implementar uma forte organização por local de trabalho. Essa organização compreende dois aspectos. A OLT propriamente dita que assume diversas formas, não orgânicas e autônomas em relação ao sindicato. É uma organização plural, aberta a toda categoria, mesmo os não sindicalizados. E a organização sindical de base que é a estrutura orgânica do sindicato atuando no local de trabalho. O sindicato e sua organização de base representam formalmente os trabalhadores. A OSB deve fazer o canal de ligação entre os trabalhadores e a entidade, além de implementar as políticas da entidade no local de trabalho. Essas duas instâncias devem estimular e dar as condições para que a OLT funcione. Já a OLT, mesmo sendo independente em relação ao sindicato, deve trabalhar em conjunto com a OSB, atuando na efetivação das ações sindicais de interesse dos trabalhadores.

Ainda que se consiga efetivar uma forte OLT e a OSB, a direção sindical deve atuar de forma permanente no local de trabalho. Nada que se avance nessa direção, a isenta dessa tarefa política. A presença dos dirigentes nos locais de trabalho é fundamental para a organização da categoria e o avanço das lutas. A diretoria como um todo e principalmente os liberados para mandato, devem estabelecer formas e mecanismos que permitam sua presença constante nos locais de trabalho. Sem isso, tendências burocráticas podem se manifestar e pode ocorrer a perda de identidade com os trabalhadores, no caso dos dirigentes liberados.

Consolidar a Nossa Organização

Regionalizar Atuação Para Fortalecer a Luta

O acompanhamento de entidades filiadas, a fim de garantir a adoção das políticas nacionais deliberadas pelos nossos Fóruns, tem sido um dos grandes desafios enfrentados pelas direções da FENAJUFE desde a sua fundação. Por conta desta dificuldade, temos hoje um quadro em que apenas algumas entidades têm conseguido efetivar de forma mais coesa os encaminhamentos nacionais. Tudo isto tem levado ao afastamento, isolamento e até mesmo desligamento de algumas entidades, onde algumas direções de plantão, se aproveitando da falta de contato da categoria com as políticas nacionais, têm criminosamente patrocinado o desligamento da entidade através do não repasse de informações e do não pagamento das mensalidades a FENAJUFE.

Vários fatores têm contribuído para esta situação. Um deles é a forma de organização da federação que acaba centralizando na sede, em Brasília, ou nos eventos nacionais em algum outro local como São Paulo, Rio e Minas, etc., as principais instâncias de discussão e deliberação das políticas de interesse da categoria. Os Fóruns e eventos nacionais são importantes para as discussões e encaminhamentos das políticas gerais, por isso devem ser mantidos. No entanto, são espaços que só envolvem as entidades que conseguem chegar para participar e ainda assim, somente pequena parte das direções de entidades filiadas. O nosso movimento precisa de outras alternativas que possam possibilitar o envolvimento permanente de todas as entidades filiadas, de modo a não permitir o isolamento de parte considerável de sindicatos.

Um outro agravante desse quadro é a atual composição da direção colegiada da federação, formada por onze membros, onde quase todos são dirigentes de entidades de base. Nessa situação, o quadro fica quase crítico. Além de reduzidos numericamente, os diretores tem que se desdobrar na FENAJUFE e na sua entidade de base, fato que acaba comprometendo sua atuação no estado e/ou na Federação. Para complicar mais ainda a situação temos a dimensão continental do nosso país que dificulta bastante a mobilidade interna da direção. Uma maneira de minorar o primeiro problema seria uma ampliação do número de diretores da FENAJUFE. Na segunda questão, o problema é mais complexo pois a maioria dos quadros do nosso movimento são oriundos das direções estaduais, não se podendo exigir destes companheiros uma dedicação integral à FENAJUFE. O que achamos necessário é garantir uma boa disponibilidade para a entidade nacional, de forma a não comprometer sua atuação no sindicato de base. Quanto ao aspecto geográfico, não há o que se fazer.

Com a experiência adquirida nas tentativas de acertar, como no caso dos “Seminários Regionais de Formação da FENAJUFE”, percebeu-se que nas áreas onde foram realizados estes eventos, houve uma maior integração entre as entidades próximas e mesmo um esboçar de iniciativas comuns, como no caso da criação do sindicato unificado de Sergipe que saiu como encaminhamento do seminário ocorrido em Carpina-PE, e que contou com uma expressiva participação de entidades. Outra experiência positiva foi os encontros que houve entre as direções do SINJUFEGO, SINDJUS e FENAJUFE quando da discussão para preparação de seminário em Goiânia que mesmo ainda não tendo ocorrido, possibilitou o encaminhar de questões outras que não só o seminário, como o caso do MPU em Goiás.

Todas estas experiências, além de muitas outras não mencionadas, foram elementos importantes para o nosso convencimento de que a organização em núcleos regionais representará uma alternativa bastante viável para o acompanhamento, fortalecimento e unificação das políticas nacionais a partir das regiões, fortalecendo sobremaneira o nosso movimento nacional. Propomos assim a criação de módulos ou coordenações regionais, conforme exemplo abaixo, que mesmo tendo sua organização patrocinada pela direção nacional, não se devem prender a formalismos exagerados, de modo a evitar a burocratização do movimento. As referidas coordenações, módulos ou qualquer outro nome que venham a ter, criariam uma agenda em comum onde houvesse encontros periódicos e atividades comuns, todas sintonizadas como os eixos gerais da política nacional dos trabalhadores do Judiciário Federal e Ministério Público. A proposta de organização seria:

 

COORDENAÇÕES

ESTADOS

Sul

Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná.

Sudeste

 Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo.

Sudeste/Centro-Oeste

São Paulo e Mato Grosso do Sul

Nordeste

Rio Grande do Norte, Bahia, Sergipe, Alagoas, Paraíba e Pernambuco.

Norte/Nordeste

Maranhão, Piauí, Ceará, Pará/Amapá e Tocantins.

Norte

Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima

Centro-Oeste

Goiás, DF e Mato Grosso.

 

Fortalecer Política e Materialmente os Sindicatos de Base

As dificuldades de inserção de muitas entidades nas lutas da categoria, sejam as mobilizações nacionais e até mesmo as mobilizações locais, tem outras graves e sérias causas. Se o aspecto federativo fosse o principal problema da diminuta ação sindical de muitas entidades, seria relativamente fácil resolver a problemática. Entretanto, muitos sindicatos se deparam com um conjunto de deficiências políticas, materiais, estruturais e humanas. Tais deficiências são os principais empecilhos a uma ação política mais efetiva da totalidade de nossa categoria.

Discutindo ponto a ponto, vamos iniciar pelas dificuldades políticas. Apesar de um inegável avanço observado em muitos estados, verifica-se ainda uma grande deficiência política em muitos dirigentes. Falta uma concepção política de classe definida. Muitos dirigentes ainda vêem o sindicato como um escritório jurídico e/ou uma entidade assistencial. Não apostam na luta e mobilização e na efetivação de ações políticas mais gerais que conduzam o sindicato e a categoria a um patamar mais avançado em sua organização. Isso também não deixa de ser um reflexo da visão de muitos companheiros da categoria. É preciso superar essa debilidade, com o sindicato investindo o máximo de recursos na construção da luta e da mobilização. É necessário insistir nessa política, “cutucar” a categoria de forma permanente, mesmo seus setores mais conservadores.

Um aspecto decisivo para superar o atraso político é a efetivação de uma política de formação de conteúdo classista. A grande maioria de nossas entidades não realiza qualquer política de formação. A de conteúdo classista menos ainda. Dessa forma, é muito difícil preparar novos quadros e avançar na edificação de uma consciência classista na direção e na categoria. A política de formação deve ser vista não apenas na perspectiva de uma formação teórica/abstrata. As atividades de formação, dependendo do conteúdo e forma utilizados, podem ser grandes instrumentos mobilizadores da categoria. E é dessa forma que deve ser efetivada.  Devem se constituir em “Centros de Organização”, onde além da formação propriamente dita, ações políticas e organizativas possam ser discutidas e planejadas. Existem hoje muitas entidades, centros e monitores dedicados à formação política e sindical. As entidades devem dispor de seus calendários de atividades, conteúdos dos cursos, etc.. Além disso, devem formular sua própria política de formação e buscar essas instituições para adequar suas programações de formação aos interesses da entidade e da categoria. A política desenvolvida pela FENAJUFE de seminários regionais deverá ser um importante complemento na política de formação das entidades.

No aspecto estrutural e material as debilidades também são muito grandes. Muitas entidades ainda possuem uma arrecadação irrisória, o que acaba inviabilizando a realização de várias ações políticas e sindicais. A principal causa dessa baixa arrecadação é o percentual de desconto que incide sobre o vencimento base e não sobre a remuneração dos servidores. Vários sindicatos têm arrecadações mensais inferiores a R$ 3.000,00. Em face dessa realidade, verifica-se que mesmo uma boa direção tem grandes dificuldades para efetivar uma política sindical correta e abrangente. Por absoluta falta de condições materiais. Enquanto perdurar a atual situação salarial da categoria, é urgente que os sindicatos discutam firmemente com a categoria a mudança na sistemática de desconto. Sabe-se que é uma discussão difícil, mas é preciso que as direções tenham coragem política de efetivá-la e tenham a capacidade de convencer os trabalhadores da sua necessidade.  Um percentual que é adotado em muitas entidades é de 1% sobre a remuneração. Pode ser um ponto de partida na discussão.

Algumas políticas também são fundamentais para uma desejável ação sindical. A comunicação, o jurídico, as assessorias técnicas são elementos da maior importância para que as entidades desenvolvam a contento suas atividades. O setor de comunicação é um dos mais estratégicos. As entidades precisam dispor de profissionais, equipamento e todos recursos necessários para a efetivação de uma boa, ágil e competente política de comunicação. Nessa questão existe um outro componente muito importante: a utilização dos recursos da informática, em particular, da internet. Instrumento que ganha cada vez maior importância na vida das pessoas, deve ser bem utilizado pelos sindicatos, principalmente enquanto fonte de obtenção e repasse de informações, além de outras utilidades. A construção de home pages deve ser avaliada pelos sindicatos e implementadas se consideradas necessárias.

A visão de que somos uma parte do proletariado brasileiro precisa ser bem disseminada na categoria. Ainda persistem ranços corporativos em muitos companheiros que dificultam sua plena identificação enquanto classe trabalhadora. Para romper com essa visão, é essencial que os sindicatos participem dos fóruns mais gerais dos trabalhadores. A CUT, as coordenações de servidores públicos, a participação em atividades do movimento popular e sindical, etc., são algumas das instâncias que as entidades devem investir e inserir a categoria.  Se concebemos o movimento sindical do Judiciário e MPU enquanto um instrumento a serviço da transformação da sociedade, é preciso dar mais abrangência a luta e ação das entidades, rompendo com o horizonte corporativo e particular no qual alguns sindicatos limitam sua atuação.

Uma última questão que consideramos essencial. É a organização por local de trabalho em instâncias formais ou informais dos trabalhadores. Muitos dos nossos sindicatos criaram estruturas orgânicas de base. Delegacias sindicais, diretorias de base, conselhos de base, representantes de setor, entre outras, foram algumas das experiências implementadas. Avaliamos tais experiências como extremamente importantes na medida em que se buscou ampliar o leque da ação sindical, bem como democratizar as instâncias decisórias das entidades. É um processo ainda em construção e que precisa avançar para o conjunto dos sindicatos. Além das estruturas sindicais de base, os sindicatos precisam estimular a criação das organizações por local de trabalho (OLT). Estas não são instâncias do sindicato, mas podem dar uma imensa contribuição aos processos de luta e mobilização convocados pelos sindicatos. A organização sindical de base deve atuar conjuntamente com as OLTs, estabelecendo-se entre estas uma relação política de cooperação e catalisação da mobilização em cada local ou setor de trabalho.



[1] BOITO JR. Armando. O sindicalismo de Estado no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp, 1991. p. 63

[2] ANTUNES, Ricardo. Adeus ao Trabalho?. São Paulo: Cortez, 1995. p. 54.

[3] LENIN, V.I. Sobre os sindicatos. São Paulo: Polis, 1979.

[4] Texto Base da Direção Nacional da CUT. VII Concut. São Paulo, 2000.

[5] Ibid

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