Os golpistas não desistiram, depois de tentar represtinar o AI5, agora tentarão o primeiro de abril

Por Roberto Ponciano, coordenador suplente da Fenajufe, diretor da executiva da CUT-RJ, Mestre em Filosofia pela Universidade Gama Filho, Mestre em Letras Neolatinas pela UFRJ e Especialista em Economia do Trabalho e Sindicalismo pela UNICAMP. 
 
Tem gente que canta muito antecipadamente nossa vitória contra o Golpe.

É bom por as barbas de molho, março de 2016 se parece muito com março de 1964.

É verdade, a oposição não vai tentar um golpe ainda este ano, mas se equivoca quem pensa que o golpismo acabou.
Dilma está num jogo de pôquer, em que agora sabe realmente com quem contar , com exceção do STF, as cartas que tem nas mãos, e sabe que está em desvantagem.

A declaração da FIESP deixa claro econômica e politicamente o que está acontecendo: LUTA DE CLASSES ABERTA E DESCARADA.
Para quem achava que a boa e velha luta de classes havia morrido, Karlos Marx ressuscita a cada esquina.

Se Lula pôde governar com certa margem de manobra, colocando os interesses de parte do empresariado nacional contra os interesses do rentismo, e até usando o Mercosul contra o ALCA e tendo apoio até da FIESP, Dilma não pode usar destas cartas.

O empresariado nacional lucra cada vez e mais nas duas pontas, na especulação rentista como na produção. Se o juros cai ele ganha em uma e perde em outra, se o juros sobe ele ganha em uma e perde em outra.

Numa coisa 1964 se parece muito com 2016, com exceção do agronegócio, toda a burguesia brasileira se levanta contra o Governo e a legalidade. Por isto, por mais que a esquerda apedreje Kátia Abreu, ela representa o último segmento do empresariado nacional que não está rebelado contra Dilma, e um ou outro setor da média burguesia, mas de forma individual e separada. Em termos de bloco, a burguesia está amotinada contra o Governo constituído.

À diferença de 1964 os golpistas (por hora) não tramam um golpe sediciando as forças armadas. Uma das cartas que Dilma joga é que as forças armadas se mantenham não rebeladas e garantam a Constituição. Se assim continuar, e parece que assim continuará, o STF joga de parceiro com uma mão maior à mesa.

Um congresso volátil, conservador e llobysta e uma maioria que não é maioria, e que pode muito bem num momento de onda golpista se esvair.

Cunha é um jogador imprestável e que atrapalha o golpe, será sacrificado e substituído, mas o jogador que entrará no seu lugar é melhor e mais forte, e ajudará ainda mais o golpe.

O golpe não foi abandonado, a data foi trocada.

Da mesma forma, Levy tem a mesma inutilidade para Dilma que Cunha tem para os golpistas. Fui contra a nomeação de Levy para o Ministério, mas não condeno Dilma. Se economicamente não havia como sustentar suas medidas, se a recessão técnica que ele criou ajudou aos golpistas, de outro lado, era um aceno para tentar evitar o que agora está consolidado, uma posição monolítica da elite pelo golpe. 

Isto feito, não há mais nenhuma razão para Levy continuar na Fazenda. Sua saída agradará aos movimentos sociais, mas não podemos ter ilusões.

Simplesmente baixar as taxas de juros, com a elite conflagrada, não vai aumentar o grau de investimento. O elemento psicológico “confiança”, com a guerra que a elite vem fazendo contra a Dilma, pode levar a este mesma elite a uma greve de investimentos para agravar ainda mais a situação econômica do país, para que o golpe tenha sucesso. Isto tem prazo e limites, por isto que o STF pode ser tão importante, se ele indefinir o processo de impeachment e adiar indefinidamente o golpe, pode gorar a greve dos empresários.

Baixar os juros somente, neste momento, não vai criar um boom de investimentos. Na verdade, a margem de manobra de Dilma é pequena, além de baixar os juros,  terá que contar com os investimentos do próprio Estado, gerando déficits se for necessário e pedir ajuda aos BRICS.

Uma parceria com investimentos da China e Rússia seria fundamental neste momento para gorar economicamente o lock out do empresariado.

Até porque, o golpe tem dois objetivos:

1. O empresariado, em que pese suas divergências internas quer minar a política de salários mínimos e de direitos sociais, que afetam sua taxa de lucros e a eficiência marginal do capital, o empresariado não pode baixar até o nível que deseja os salários para produzir com uma taxa de mais valia absoluta maior. O salário mínimo é questão central, e está no centro da disputa. 

Claramente, o empresariado quer atacar a política de salário mínimo, o pleno emprego, os direitos sociais para aumentar a taxa de exploração e minar a força dos sindicatos e dos trabalhadores. Com todas as concessões que o Governo Dilma fez, este ponto central na disputa se manteve. E é isto que o empresariado colocou no Centro, os direitos sociais, a elevação do salário mínimo, as conquistas sociais: desemprego e arrocho para lucrar mais e dominar melhor (embora contraditoriamente isto iniba o investimento em longo prazo, mas a burguesia e o sapo da fábula o sapo e o escorpião).

Dilma só tem os movimentos sociais e o STF, um Congresso volátil e conservador. A saída de Levy deve dar fôlego à Dilma na relação com os movimentos sociais organizados, que devem ir para a rua sim, mas sem ilusão sobre as nossas próprias forças e o isolamento a que está nos submetendo a burguesia, que está arrastando, através dos meios de comunicação e uma campanha nazi-fascista, que se expande a partir da farsa moralista da Lavajato e que arrasta a classe média como em 1964, pedindo salvação não sabe muito bem de que.

É necessário quebrar o consenso de classe que a elite construiu sobre o golpe, trazer setores da classe média e mesmo da burguesia que ainda não aderiram ao golpismo para evitar seu desfecho.

2. Os BRICS e o TPP. A burguesia industrial brasileira chegou mesmo a apoiar o Mercosul contra a ALCA, num momento mesmo de sobrevivência contra a desindustrialização. Mas sua posição subordinada e subalterna agora a leva a preferir o TPP (acordo de comércio com os Estados Unidos e a Zona do Euro) aos BRICS. 

Há toda uma sedução e mesmo financiamento de instituições golpistas (como houve em 1964) pelos Estados Unidos para enterrar os BRICS, o Mercosul e para que o Brasil adira ao TPP e passe por um intenso processo de recolonização. A posse de Macri na Argentina deu fôlego novo aos “globalizantes” e a FIESP mudou de posição. O Brasil é peça importante do tabuleiro de xadrez internacional e tem tomado posições anti-imperialistas e pró BRICS.

Assim, são estas as duas questões centrais escondidas na aparência, para quem não consegue mergulhar na essência das coisas.
A corrupção? A corrupção é só a mentira contada mil vezes como verdade e na qual a classe média quer acreditar em seus sonhos fascistóides. Não há nenhum processo de moralização do Brasil em disputa, há sim, dois projetos de futuro, em quatro meses, se o golpe de abril for encetado, podemos perder o que organizamos em décadas!

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