Neste início de ano trago para o debate dos trabalhadores do judiciário federal a palavra “conjuntura”. Esta palavra, eficazmente utilizada no contexto político, traz como significado: “Conjunto de elementos que constituem uma solução ou um problema eminente. Situação embaraçosa ou possuidora de certa dificuldade. Conjunto de determinados acontecimentos num dado momento. Determinadas circunstâncias ou ocasiões.” Nesta definição cabe tudo para justificar qualquer posição. Foi nela que a presidenta Dilma amarrou a decisão contra o PCS citando a conjuntura internacional. É nela que os tribunais e seus conselhos embasam as decisões que geram, friamente, resoluções que atormentam os servidores.
A “conjuntura” tem duas características nefastas: seu nível de abstração dos fatos e omissão de dados revelam um modo farsante de operação. Não é preciso prová-la, apenas citá-la. Nas negociações, a parte fraca, a grande prejudicada (leia-se: os trabalhadores), deverá apenas aceitar os fatos subjetivos, largamente divulgados pela mídia paga, pelos vassalos de plantão, pelos beneficiários da miséria social. Assim, em nossas salas, os telejornais nos anestesiam, os jornais e revistas nos cegam e a internet nos congela.
E constrói-se a seguinte questão: como pessoas tão bem informadas não compreendem a conjuntura negativa? Porém, se observarmos detalhadamente as outras manchetes, perceberemos que a tal “conjuntura” não atinge as grandes empresas, os banqueiros e os políticos que sangram as verbas públicas. A venenosa “conjuntura” só aparece para inviabilizar propostas de benefícios para os trabalhadores. É só ali que o ácido queima. A questão não se resume ao debate dos salários, mas a tudo que surge como melhoria para os trabalhadores como: melhorias no plano de saúde, no auxílio-creche, no vale-alimentação, no pagamento de horas extras e demais direitos.
O “mantra conjuntural” iniciado no governo central vai sendo repetido em todas as esferas do poder, garantindo vantagens aos que mandam e desvantagens aos subordinados. Práticas de uma velhacaria incrustada na humanidade desde os primórdios. Daí o velho ditado popular: “pirão pouco, o meu primeiro”.
Talvez estabeleçamos, também, “conjunturas” particulares quando não contribuímos com os sindicatos e esvaziamos as lutas dos trabalhadores, fortalecendo o discurso dos governantes e mandatários. Assim, inconscientemente, contribuímos com a nossa omissão para construção da nefasta “conjuntura” que nos aniquila.
Se há uma conjuntura que nos atormenta, há uma que nos impulsiona. A nossa conjuntura tem pontos reais e dolorosos, entre eles: perdas salariais, retirada de direitos históricos, inflação manipulada para baixo, demanda de trabalho em alta, saúde precarizada nos locais de trabalho. Para fortalecer a nossa conjuntura, existem os sindicatos e a Fenajufe. Só essas entidades têm encaminhado às lutas dos trabalhadores e desafiado o poder em todos os locais. Em abril, retomaremos as ruas de Brasília com a pauta de reivindicações que norteiam a conjuntura dos trabalhadores. É essa a nossa luta, hoje e sempre, contra as conjunturas forjadas dia e noite pelo governo e seus aliados.
*Janilson Sales de Carvalho é Coordenador Geral do Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário Federal no Rio Grande do Norte (Sintrajurn)