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Sindijufe/MT: Entre avanços e retrocessos, mulheres do judiciário avaliam que é preciso atitude para mudar o mundo

Sindijufe/MT
Luiz Perlato

Machismo, preconceito, assédio moral, assédio sexual, discriminações em diferentes escalas e ameaças constantes de perdas de direito. Esta, em síntese, tem sido a realidade da mulher brasileira, e o panorama dentro do Judiciário Federal não é diferente. Daí o porquê da importância que o SINDIJUFE-MT atribui ao significado do Dia Internacional da Mulher, que é comemorado em 8 de março. 

Ouvindo algumas mulheres trabalhadoras dentro da Categoria, vêm à tona dados que muitas vezes passam despercebidos ou  são mantidos propositalmente escondidos, e eles servem de alerta para os rumos que a sociedade deve buscar, a fim de alcançar um mundo mais justo e menos desigual. Se por um lado a mulher tem conseguido avançar e conquistar seu espaço, por outro ela tem sofrido um crescimento de ataques aos seus direitos, como é o caso das propostas indecorosas contidas nos projetos de reformas previdenciária e trabalhista. 

Homenagem e reflexão 

Em nome do SINDIJUFE-MT, a diretora de Comunicação, Júlia Viñe, parabenizou as mulheres do Judiciário Federal, destacando que em geral elas são profissionais competentes, responsáveis e ao mesmo tempo sempre interessadas em desempenhar suas funções no trabalho da melhor forma possível. 

"Preparadas para os desafios constantes no trabalho, as Servidoras têm contribuído muito para a aprimorar a qualidade dos serviços oferecidos pelo Judiciário Federal. Mas todos sabem que a mulher em geral tem tripla jornada de trabalho, e ela tem enfrentado muitos desafios ao longo dos tempos. Os espaços que ela ocupa hoje na sociedade foram conquistados com luta e duros esforços". 

Sob a ótica capitalista, a diretora do SINDIJUFE-MT  lembra que a mulher também é força de trabalho e participa ativamente da economia. Apesar disso, salienta ela, a mulher ainda é muito desvalorizada dentro desse mercado de trabalho, sobretudo nos países em desenvolvimento,  e a prova disso é que muitas vezes ela ganha menos que o homem, fazendo mesmo trabalho. Mas a mulher é fundamental para o equilíbrio de toda a sociedade, e sendo assim ela também deve ser beneficiada com a melhoria da qualidade de vida e uma melhor distribuição das riquezas. 

Júlia considera que a mulher tem conseguido se libertar de muitas amarras, mas até hoje é vítima do machismo e também nas injustiças no ambiente do trabalho. "A mulher cuida não só dos filhos e do marido mas também dos pais e outros familiares. Para isso ela se organiza da melhor forma possível mas nem sempre é reconhecida por tudo isso. Em geral ela não é valorizada e nem compensada financeiramente, e muito nos entristece o fato de que em pleno mundo moderno a mulher ainda seja vista como uma espécie de mão de obra barata". 

Concluindo seu raciocínio, a diretora do SINDIJUFE-MT assinala que é preciso barrar a reforma da Previdência, que em sua opinião afeta diretamente as mulheres, ultrapassando os limites do bom senso e da razão. "A proposta desconsidera aspectos importantes da jornada de trabalho e do papel social da mulher, devendo por isso ser combatida.Por isso devemos fortalecer o movimento de combate à reforma da Previdência e também à reforma trabalhista.  Que o Dia da Mulher nos sirva para essas reflexões", finalizou ela, lembrando que o SINDIJUFE-MT tem orientado as mulheres e toda a Categoria a lutarem por seus direitos a qualquer custo. 

Momento de travessia 

Presente em 100% das lutas da Categoria puxadas pelo SINDIJUFE-MT, a Servidora Jamila Abrão Fagundes traz à luz das reflexões a variedade de impregnados na sociedade. "Nós mulheres temos a tarefa diária de quebrar esses estereótipos", disse ela, acrescentando que para a mulher os desafios são maiores, mas observou que quando algo é difícil não significa que seja impossível. "Conforme dados da Organização das Nações Unidas (ONU), de cada 10 mulheres 7 sofrerão algum tipo de agressão durante a vida, e nós mulheres sofremos agressões com uma frequência bem maior. A gente é agredida no trabalho, com assédio moral, e também assédio sexual. A agressão acontece não apenas fisicamente, mas também do ponto de vista psicológico. Nós ainda lidamos com as agressões físicas e psicológicas". 

Para Jamila, a mulher tem que ter uma dose maior de coragem para enfrentar tudo que precisa ser mudado na sociedade. A boa notícia, conforme avaliou, é que estaríamos vivendo um momento de travessia, em que as mulheres estão se destacando cada vez mais nos postos de trabalho mais importantes, a exemplo do Judiciário, em que a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) é a ministra Cármen Lúcia. "Acho interessante quando ela diz que sofreu muita discriminação e preconceito por ser mulher, inclusive dentro do próprio STF. Tem uma fala dela que demonstra claramente como ela era discriminada". 

Nessa fala de Cármen Lúcia citada por Jamila, a ministra revela que sempre que era o momento dela falar acabava sendo podada pelo ministro Ricardo Lewandowski, então presidente do STF, e que ele não apenas a interrompia como também lhe retirava a fala, muito embora aquele fosse um direito dela. 

"Comportamentos como esse a gente vê em todos os segmentos e a todo momento, e quando as mulheres se impõem exigindo serem respeitadas elas são tachadas de loucas. Eu mesma já subi no salto algumas vezes e dei uma de mais brava e por conta disso, porque eu acho que a mulher tem que ser respeitada, primeiramente e acima de tudo", pondera Jamila. 

Preocupações e desafios 

Em suas palavras, a reforma previdenciária em tramitação no Congresso Nacional (Proposta de Emenda Constitucional - PEC 287/2016) penaliza as mulheres e aprofunda as desigualdades. "Até porque ela estabelece os 65 anos para homens e mulheres. Hoje nós temos a idade mínima de 55 anos, e então agora a mulher terá que trabalhar no mínimo mais 10 anos". 

Outro aspecto mencionado por Jamila é que quando a reforma da Previdência estabelece a regra de transição, a mulher é acima de 45 anos e o homem, acima de 50 anos, para ter aqueles mesmos 65 anos entre homens e mulheres. Ou seja, eles não obedecem o princípio da isonomia, que é tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na exata proporção de suas desigualdades. Jamila explica que essa mesma regra para homens e mulheres aumenta ainda mais a desigualdade de gêneros. 

As considerações de Jamila Abrão envolvem ainda uma das mais delicadas questões dentro do judiciário, referente aos assédios. "Tem uma ordem de assédio moral no Judiciário que eu já vivenciei, inclusive recentemente, e há casos em que você é assediada por uma outra mulher, com carga machista. Então, você se depara com todo esse tipo de situação no trabalho, e a mulher tem a jornada tripla. Ela está no mercado de trabalho disputando com desigualdade perante os homens". 

Por sua natureza, Jamila observa que a mulher é mais criteriosa, mais minuciosa e mais dedicada. "No entanto, você pode observar que os altos cargos de gestão dificilmente são ocupados por mulheres. Um exemplo disso é o TRT-23, onde o cargo mais alto é o de quem ocupa a CJ4. Então a CJ4 é diretor-geral e secretário-geral. Eu já fui CJ4 secretária-geral, mas aí o diretor-geral, que não é um cargo mais importante que o de secretário-geral, porém o secretário-geral é voltado mais para as questões jurídicas, enquanto o DG é voltado para as questões administrativas e é o ordenador de despesas". 

Só que, conforme Jamila, o TRT de Mato Grosso nunca teve uma diretora-geral, e esse sempre foi um cargo ocupado exclusivamente por homens. "Eu vejo isso como uma forma de discriminação, pois temos no mínimo 5 mulheres que se destacaram ao longo desse tempo de existência do Tribunal que poderiam ser DG tranquilamente", assinala. 

Para Jamila, a mulher tem que matar um leão por dia e enfrentar o que precisa ser mudado, sempre com muita coragem. "Quando você peita o machismo, a falta de respeito, ou você exerce a Lei Maria da Penha, ou você faz qualquer coisa, você é chamada de louca, você é desequilibrada. Vivemos numa sociedade machista impregnada desses estereótipos e valores distorcidos, que faz com que a mulher ainda tenha um maior adoecimento. A mulher é a maior detentora nos quadros de depressão, fibromialgia e doenças psicológicas, além das lesões por esforços repetitivos (LER)". 

Por conta dessa sobrecarga, Jamila aponta que as doenças que mais acometem as mulheres são as de fundo emocional, em função do preconceito e das desigualdades. 

Preparando as futuras gerações 

Outra diretora do SINDIJUFE-MT, Andrea dos Santos Silva, avalia que o homem ainda não se vê como parceiro dentro de casa, e isso sobrecarrega a mulher, que cuida da casa e também dos filhos. "Mas isso já não se sustenta mais, porque hoje a mulher contribui financeiramente tanto quanto o homem dentro de uma mesma família, e não é justo que a responsabilidade por essas atividades recaia apenas sobre elas", declara. 

Segundo ela, o Dia da Mulher deve servir para se refletir sobre essas questões, para se poder ensinar às futuras gerações que essa situação tem que mudar, e o homem tem que se adequar. "Sou mãe de um menino, e a minha contribuição será ensiná-lo sobre o valor de uma mulher, seja ela a mãe ou a gerente de uma casa. Ele não é uma visita, ele é parceiro. Ele tem que ser parceiro dela, e as mesmas obrigações, as mesmas atividades têm que ser igualitariamente divididas, não tem por que ser diferente, já que a mulher contribui financeiramente dentro de casa. Portanto, como mãe eu vou ensinar meu filho a ser parceiro da sua esposa, esta será uma minha contribuição para a geração futura. Mas eu acho que a gente tem que refletir mais sobre o papel do homem na sociedade e o da mulher, e que a gente realmente se posicione diante de algumas coisas que já estão ultrapassadas, como a  cultura do estupro, ou a cultura da violência doméstica que incide contra a mulher". 

Na avaliação de Andrea, mesmo perdendo espaço o homem ainda tende a se impor através da agressividade e da sua força física sobre a mulher. "A mulher tem que denunciar e tem que se impor, não pode aceitar situações de injustiça, pois hoje realmente temos condições de ter uma sociedade melhor, mas para isso temos que exercer os nossos direitos e não podemos abaixar a cabeça, por mais difícil que seja mudar essa situação. Temos que discutir essa questão com os nossos familiares e também estender a discussão para o restante da sociedade", concluiu. 

O preço das conquistas 

Aliadas indispensáveis do SINDIJUFE-MT no atendimento constante dos seus sindicalizados, as funcionárias do Sindicato também têm algo a dizer para a sociedade neste 8 de março. E o que elas falam vai bem além de uma simples declaração alusiva ao Dia da Mulher. Nas declarações da gestora do Sindicato, Joseanne Ferreira Nonato Zark,  este é um dia que deve ser sim comemorado, pois, a duras penas, muitas foram as conquistas ao longo do tempo com relação aos direitos morais, sociais e políticos. Porém, ela destaca que,  assim como tudo na vida, nada vem de graça. 

"Tudo o que conquistamos até hoje são resultados de muito esforço e dedicação por tudo que fazemos e acreditamos. Não somos melhores e nem piores que ninguém, porém somos nós que devemos fazer nossas escolhas e decidir nosso caminho, onde vamos removendo as pedras e delas construindo nosso castelo", disse a gestora.

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