“De cada 100 pessoas que sofrem homicídio no Brasil, 71 são negras”. A frase que abre o quinto tópico do Atlas da Violência 2017, publicado em junho deste ano pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), provoca um gosto amargo na boca e a sensação de que perdemos o senso de humanidade em alguma esquina da nossa história. Ela plastifica a realidade de um país que sempre tratou a população negra e a negritude afro-brasileira como pecado a ser punido. São estatísticas indefensáveis que apontam para um genocídio em curso.
O assassinato de jovens homens negros no Brasil pode ser comparado aos números de mortos em guerra. E a tragédia não se restringe a causas socioeconômicas. Estudos mostram que o cidadão negro possui chances 23,5% maiores de ser assassinado, comparado ao restante da população, já descontado o efeito da idade, sexo, escolaridade, estado civil e bairro de residência.
Se tomado o recorte de tempo entre 2005 e 2015, a evolução da taxa de homicídios na população negra aumentou 18,2%, enquanto que para aquela não-negra, reduziu em 12,2%. E os números são piores quando o extrato é sobre o segmento de mulheres negras.
Os números mostram uma condição agravada e apontam que muitas dessas mortes poderiam ter sido evitadas. Antes de serem mortas, essas mulheres são vítimas de outras violências em série como de gênero, psicológica, patrimonial, física ou sexual.
O 20 de Novembro é hoje, mais uma vez, um convite à reflexão sobre a real situação do negro no Brasil ao longo dos mais de 300 anos de resistência à escravidão.
É também o fortalecimento da luta contra a exclusão secular a que a população negra é submetida. É o fortalecimento de uma luta que joga luz não sobre algum tipo de invisibilidade histórica, mas sobre uma das maiores injustiças étnicas já praticadas pela estória contra um povo.