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Sindjufe-MS entrevista a Presidente da Associação Brasileira das Mulheres de Carreira Jurídica – MS e presidente do Comissão de MS, Rachel Magrini Sanches é Advogada que fala sobre o machismo e o feminicídio. Confira a entrevista

Em Campo Grande, a 3ª Vara de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, primeira Vara de Medidas Protetivas do Brasil, em média, defere diariamente 20 medidas protetivas, número infinitamente superior ao de feminicídios, e a direção do SINDJUFE/MS preocupado com os números de ocorrência, que crescem a cada dia, decidiu entrevistar a Presidente da Associação Brasileira das Mulheres de Carreira Jurídica, Rachel Magrini visando à construção de ações e parcerias na prevenção e combate ao feminicídio em Mato Grosso do Sul.

Lembramos que a Lei Maria da Penha é uma das três mais modernas do mundo no combate à violência contra a mulher em razão de várias inovações, como as medidas protetivas de urgência, dispositivos que preveem a proteção da vítima e familiares.

Confira a entrevista:

SINDJUFE/MS: Qual a importância dos sindicatos e a sociedade se pontuarem sobre o machismo e misoginia como aconteceu aqui na Câmara Municipal de Campo Grande Campo Grande, quando o vereador Wellington de Oliveira (PSDB) deu o exemplo dos salões de beleza, que deveriam ficar abertos para que as mulheres pudessem usar seus serviços. De outra maneira, “não tem marido nesse mundo que vai aguentar”?

Rachel Magrini Sanches: Precisamos nos manifestar sempre que constatarmos comentários, brincadeiras, comportamentos preconceituosos (de qualquer origem), demonstrando que não está correto, que temos que romper com o patriarcado estrutural para que nossa sociedade, de fato, consiga evoluir. Não podemos estimular a normatização de atitudes e comportamentos que diminuam o papel da mulher.

SINDJUFE/MS: No Brasil, mesmo as mulheres são machistas?

Rachel Magrini Sanches: Sem dúvida nenhuma. O problema é cultural. Desde o momento em que nascemos somos todos educados a pensar que o homem é quem deve decidir, deve liderar, deve prover.
É difícil romper com estereótipos e paradigmas. Por isso é tão importante nossa manifestação quando nos deparamos com os comportamentos machistas, até mesmo em Câmara de Vereadores.

SINDJUFE/MS: Que importância tem ainda o machismo no Brasil atual?

Rachel Magrini Sanches: O machismo ainda determina ser aceitável que mulheres sejam agredidas em seus lares, sofram assédio ou violência física e moral, tenham menores salários, oportunidades, por exemplo. Enquanto não conseguirmos trazer e expor o debate de como o machismo atrasa o desenvolvimento da sociedade, não conseguiremos a igualdade de gênero.

SINDJUFE/MS: Como você julga o estado atual da homossexualidade no Brasil?

Rachel Magrini Sanches: Não é uma questão de julgamento. Acredito que não deva ocorrer qualquer tipo de preconceito e desrespeito de direitos que são garantidos em nossa Constituição Federal.

SINDJUFE/MS: Nos estudos de gênero segue-se discutindo sobre a masculinidade e a feminilidade, se são fenômenos naturais ou fenômenos que dependem da cultura, da sociedade, se são construções culturais e sociais. O que você acha?

Rachel Magrini Sanches: No meu ponto de vista, a questão da igualdade de gênero independe de masculinidade ou feminilidade, se são fenômenos culturais ou sociais. O direito a igualdade é do ser humano.

SINDJUFE/MS: Você já foi vítima, já presenciou ou tem conhecimento de algum caso de machismo ou assédio?

Rachel Magrini Sanches: Não gosto de me colocar como vítima. Mas já me percebi em situações que minhas oportunidades foram tiradas em decorrência de condutas machistas.

SINDJUFE/MS: E sobre as abordagens gerais da mídia sobre violência contra a mulher, principalmente sobre o estupro e o feminicídio, como você definiria?

Rachel Magrini Sanches: Hoje a mídia tem contribuído muito no combate a violência contra a mulher, o que realmente tem feito a diferença na nossa busca pela igualdade de gênero. Não conseguiremos igualdade sem garantir ampla divulgação e visibilidade. Acredito que precisamos tratar da ausência de questões de interesse das mulheres como temas de reportagens não apenas em março e fortalecer a presença de mulheres como personagens e fontes para matérias jornalísticas. A imprensa tem papel fundamental para formar opinião e, também, pressionar por mais políticas públicas, além de aumentar e contextualizar o debate sobre o feminicídio.

SINDJUFE/MS: Qual sua opinião sobre o aumento de casos de violência doméstica durante a quarentena?

Rachel Magrini Sanches: Foi constatado o aumento da violência doméstica nesse momento de isolamento social. E o pior é ainda que há subnotificações, considerando as dificuldades encontradas para que a mulher possa fazer a denúncia formal. Além disso, a rede de apoio, seja pública ou familiar, está consideravelmente prejudicada, não podendo a mulher contar com o auxílio que teria se não fosse a atual situação de afastamento por causa da pandemia.

As situações que elevam à violência doméstica são o maior tempo de convivência, a sobrecarga de estresse decorrente da insegurança que vivemos agora, fazendo com que a tensão, nervosismos, aumente em maiores proporções.

Rachel Magrini Sanches é Advogada, pós-graduada em direito civil e processual civil, MBA em direito empresarial pela FGV, presidente da Associação Brasileira das Mulheres de Carreira Jurídica – MS, presidente do Comissão de MS e Mulheres e Justiça da BPW Nacional.

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