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Veja faz campanha contra a Reforma Agrária

Por Sérgio Domingues e Vito Giannotti* - 18/03/05

A edição da revista mais conservadora do País foi às bancas no dia 6 de março. O título da matéria é explícito: "Nós pagamos, eles invadem". Abaixo do título, uma charge de João Pedro Stedile ordenhando uma vaca verde-amarela sobre um balde com o símbolo do MST, cheio de militantes tomando o leite que cai das tetas do animal.

A reportagem de André Rizek diz que "O MST nunca recebeu tanto dinheiro do governo. E agora é investigado por suspeita de usá-lo para financiar invasões". Rizek alega que o MST viu secarem suas fontes de financiamento quando os doadores europeus voltaram sua atenção para o Leste Europeu nos anos 90. Além disso, a causa por que luta teria sofrido um esgotamento, já que nasceu apoiada no combate "aos – hoje praticamente inexistentes – latifúndios improdutivos". Esses dois fatores teriam provocado "um esvaziamento do movimento". E isso teria feito com que o MST fosse empurrado "para uma direção inédita: os braços do Estado".

O artigo da Veja, como sempre, mistura fatos com interpretações e, sobretudo, opiniões que refletem sua linha política e ideológica conservadora. É fato que o apoio internacional aos movimentos populares se deslocou, hoje, do Brasil para outras áreas do mundo. Mas quem disse que hoje as terras e latifúndios improdutivos são quase inexistentes? E, sobretudo, por que a Veja silencia que milhões de hectares de terra que ela, alegremente, chama de produtivas são terras devolutas, terras sem dono.

Quanto ao que a Veja define como uma queda do MST nos braços do Estado, essa é outra afirmação ideológica.

O MST exige, com centenas de ocupações, que o Estado cumpra seu papel de implementar a reforma agrária. O que o MST exige e em parca medida recebe do governo não é nem um milésimo do que o agronegócio recebe de mil formas do mesmo governo. As maneiras do chamado agro-business aumentar seus lucros são tantas: ferrovias feitas especialmente para escoar seus produtos, portos, isenções e incentivos, estoques regulatórios, apoios técnicos e toda a parafernália de artifícios para financiar o capital.

Para a Veja, isso é legítimo. Seu interesse é convencer seu milhão de assinantes que o MST é o vilão, o bandido e deve ser processado.

* Sérgio Domingues e Vito Giannotti são membros do Núcleo Piratininga de Comunicação.

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