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Os assinantes pagam, Veja mente

Por José Arbex Jr. – 21/03/05

Em sua edição de 5 de março, a revista - ou melhor, panfleto da direita racista tupiniquim - volta a produzir injúrias, calúnias e difamações contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), com a "reportagem" intitulada "Nós pagamos, eles invadem". O panfleto acusa o MST de desviar "milhões de reais" fornecidos pelo governo para implementar a reforma agrária. O dinheiro "desviado" seria utilizado para promover novas "invasões". Além disso, Veja publica depoimentos de supostos ex-integrantes do MST que denunciam a cobrança de taxas ilegais a todos os assentados por parte da direção nacional do movimento. Irados com tamanha injustiça, os ex-militantes queimam a bandeira do MST, produzindo um indisfarçado orgasmo nos autores da "reportagem", feita no assentamento Baixio do Boi, no município de S. José de Belmonte, sertão central de Pernambuco.

E a Veja mente de novo

Primeiro, vem a questão dos "dissidentes irados". No assentamento vivem 190 famílias, cerca de 800 pessoas. Destas, apenas 10 participaram do "protesto", liderado por um certo Francisco, ex-técnico agrícola dos assentados. Outros que acompanhavam o evento não tinham qualquer relação com o MST. O que a revista não conta, explica Jaime Amorim, da direção do movimento, é que há cerca de 6 meses o tal Francisco foi demitido pelo MST, por suspeitas de desvios de dinheiro do Pronaf e má conduta. Atualmente, o tal Francisco sofre processo do Banco do Nordeste, por desvio de dinheiro. Ou a Veja não sabia disso, e portanto é incompetente, ou sabia e ocultou a informação, e portanto é criminosa.

Depois, vem a acusação da suposta "cobrança ilegal de taxas". Essa é velha. A lebre foi levantada, no ano 2000, pelo suposto "jornalista" Josias de Souza, da Folha de S. Paulo, posteriormente obrigado a admitir ter feito a sua "reportagem" sob os auspícios do governo Fernando Henrique Cardoso, que chegou a ceder automóveis e orientação técnica para a produção de um trabalho realmente "independente" de jornalismo. Na época, o MST esclareceu exaustivamente que qualquer cooperativa, em qualquer parte do planeta Terra, cobra um taxa mínima de seus associados, como condição básica de subsistência.

Por fim, vem a acusação de "desvio de verba" para promover "invasões". Francamente, o assunto chega a ser tedioso e não merece sequer ser comentado. Os editores do panfletão acham estranho o governo ceder verbas a um movimento social que agrega 300 mil famílias de trabalhadores rurais em todo o país e que mantém escolas, atendimento de saúde, treinamento profissional, assistência técnica e outros serviços públicos. Só para mero efeito de comparação: em 2003, a Anca (acusada pela Veja de receber dinheiro público indevido) obteve do MEC R$ 3.424.608,00 para promover o seu programa de alfabetização de 35 mil sem-terra adultos, em acampamentos e assentamentos, alguns situados em áreas tão inóspitas que não são servidos por qualquer infra-estrutura estatal. Pois bem: no mesmo período, a entidade dirigida pela ex-primeira-dama Ruth Cardoso (Alfabetização Solidária) recebeu R$ 33.966.900,00 e o Sesi, R$ 27.680.400,00; ao Instituto Riomafrense do Bem Estar do Menor, entidade nível municipal do Paraná, foram destinados R$ 6.193.440,00.  Nada disso merece atenção dos honestos editores do panfletão.

Curiosamente, a revista - também repudiada pelo PT, a quem acusou sem provas de ter recebido verbas das Farc colombianas para promover a campanha eleitoral de 2002 - nada diz quanto aos recursos bem mais vultuosos endereçados pelo governo aos cofres da família Civita, a título de pagamento por anúncios publicitários e aquisição de assinaturas de publicações do Grupo Abril. Seria muito interessante promover uma CPI para investigar as relações entre os vários governos e os donos do Grupo Abril, e mais ainda investigar o destino que a família Civita dá ao botim.

Vejamente, eis tudo. De nada adiantou, ao que parece, a revista ter sido condenada por injúria, calúnia e difamação, por "reportagem" semelhante, publicada na edição de 10 de maio de 2000, intitulada "A tática da baderna". Na época, João Pedro Stedile entrou com processo no Fórum da Lapa, e ganhou em primeira instância. Apostando na morosidade da Justiça, a revista recorreu. O processo ainda tramita, mas moralmente a revista foi conduzida ao seu lugar: a lata de lixo da história. Os assinantes da revista, aliás, deveriam fazer um movimento para exigir de volta o seu dinheiro, por receberem notícias falsas e ainda por cima requentadas. Fica a sugestão: aproveitem como mote o lema "nós pagamos eles mentem".

José Arbex Jr. é editor da revista Caros Amigos e escreve também para o jornal Brasil de Fato. Colaborou Hamilton Octavio de Souza.

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