Greve dos Metroviários: Sintrajud manifesta solidariedade a presidenta do Sindicato após ameaças

 Os metroviários de São Paulo protagonizaram grande resistência com uma greve de 34 horas, nos dias 24 e 25 de março, que desafiou publicamente o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o Metrô SP, ao propor a liberação das catracas, para não causar transtornos à população que utiliza o transporte público. Após o encerramento da greve Camila Lisboa, a primeira presidenta do Sindicato dos Metroviários, passou a ser vítima de ameaças de morte, além de sofrer ofensas e xingamentos, através das redes sociais.

Demonstrando-se contrários às demandas da categoria e ao poder que a organização coletiva garante à classe trabalhadora, indivíduos de extrema-direita atacaram uma mulher negra e líder sindical, o que por si só já é gravíssimo, mas, ao fazê-lo, atacam também todo o movimento sindical. Circulam em grupos de extremistas fotos dos trabalhadores e ativistas do movimento paredista, seguidos por mensagens de ódio. O Sindicato dos Metroviários de São Paulo também recebeu um e-mail ameaçando um ataque à sua sede.

A atuação unitária dos metroviários demonstrou, durante o decorrer da greve, o amplo desejo de iniciar uma negociação. O movimento paredista reivindicava a defesa do abono compensatório, argumentando que se tratava de valor que a empresa deve aos metroviários há 3 anos, e que se recusa a pagar, além de terem cobrado a realização de concurso público, apontando quadro defasado de funcionários.

Igualmente, o movimento expôs o descaso do governo estadual com o transporte público e com a própria população, dado que propôs ao metrô a liberação das catracas ainda na madrugada do dia 24, para normalizar o fluxo na cidade. A proposta até foi aceita e divulgada pelo governo de Tarcísio de Freitas às 8:30h da manhã, após cenas de tumulto e enorme congestionamento; no entanto, o Metrô procurou a Justiça. O pedido de concessão de medida liminar em sede de mandado de segurança requisitava que as catracas não fossem liberadas, que o funcionamento se desse em 100% da capacidade em horários de pico e no mínimo em 80% de trens e funcionários nos demais horários, sob pena de multa de R$ 500 mil.

O desembargador plantonista Ricardo Apostolico Silva se opôs à liberação das catracas, justificando que “eventual liberação das catracas poderia submeter o sistema ao recebimento de usuários acima do regular, diante de evidente migração de passageiros de outros meios de transporte, causando colapso e pondo em risco a segurança  dos  trabalhadores  e  dos  próprios  usuários,  além de danos aos equipamentos e estrutura das estações”. O TRT-2 determinou, ainda, via liminar, que ao menos 80% do serviço do efetivo do metrô deveria funcionar nos horários de pico (entre 6h-10h e entre 16h-20h) e com 60% nos demais horários, durante a paralisação. O Sintrajud criticou a decisão do desembargador e a atuação do governador do estado frente à greve, considerada pelos trabalhadores como uma trapaça (leia aqui). Em solidariedade, o Sintrajud também assinou moção de apoio à greve dos metroviários de São Paulo.

Além de repudiar tais atos, e prestar total solidariedade à companheira Camila Lisboa e a todos os trabalhadores atacados ou ameaçados, o Sintrajud se une ao Sindicato dos Metroviários na cobrança de que o “Poder Público e a Justiça” tomem providências em favor da proteção dos dirigentes sindicais e pedem investigação, apuração e responsabilização dos envolvidos nas ameaças. Em nota, a CSP-Conlutas e demais centrais sindicais afirmaram que irão denunciar os ataques inclusive na Organização Internacional do Trabalho (OIT).

A diretora do Sintrajud Luciana Carneiro demarcou a importância de ter uma mulher negra na linha de frente do Sindicato. “Hoje, Camila ocupa o cargo de presidenta em um dos sindicatos mais importantes do país. Esse sindicato, com uma greve espetacular, enfrentou um governo da extrema-direita. Inclusive com posicionamentos que fizeram com que a greve fosse aplaudida pela população, porque o governador Tarcísio e o Metrô, a todo momento, tentaram desconstruir essa greve, como se os metroviários se recusassem a voltar ao trabalho, tentando jogar a população contra os trabalhadores. Com falas muito firmes de Camila, e de todos os metroviários, a categoria disse não, batalhou pela catraca livre, e pela negociação. Foi uma mulher peitando uma série de homens, autoridades e decisões injustas. Então, essas ameaças denotam o caráter misógino com que todas as mulheres e sindicalistas são tratadas em diversos espaços. Uma greve espetacular, que enfrentou e afrontou, esse governo da extrema-direita, representante do bolsonarismo”, finalizou.

Jornalista da Fenajufe